BRUNA MARTINS FONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para erguer ou remodelar uma casa, não é preciso derrubar conceitos de preservação do ambiente e do bem-estar de seus habitantes. Isso é o que mostram dois exemplos de "reformas ecológicas" que estão sendo realizadas em São Paulo sob a batuta do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea).
Do cimento que recheia as estruturas (feito com resíduos de siderúrgicas) à proteção dos pisos (trocando o verniz por óleos naturais), diversos materiais foram substituídos por similares que causam menos impacto ao entorno, da fabricação ao descarte.
"Num dos trabalhos, em uma casa, a reforma é mais radical. Fizemos alguns produtos no local, como as tintas para caiação", diz Márcio Augusto Araújo, consultor do Idhea. "No outro projeto, de um apartamento, foram só materiais feitos industrialmente."
Nas alterações da casa do professor Ricardo Bresler, 37, e da jornalista Veronika Paulics, 37, tijolos, telhas, madeiras e esquadrias foram reutilizados na nova edificação.
O reúso também se estenderá à água, que, ao sair da cozinha e do banheiro, será tratada para voltar às torneiras do quintal e ao vaso sanitário. O mesmo destino terá a água da chuva, captada em grelhas e calhas e acondicionada em um reservatório.
"Não somos ambientalistas. Nossa motivação é mais política e econômica", afirma Bresler. "Se todos reaproveitassem a água da chuva, o problema das enchentes seria amenizado."

Reciclagem
O economista Hugo Penteado também buscou auxílio para reformar seu apartamento usando produtos ecologicamente corretos, como conduítes reciclados, forro de fibras de celulose e cimento feito com resíduos industriais.
"Um item que uso muito é madeira de reflorestamento. Nesse trabalho, a marcenaria vai ser toda de MDF feito com matéria-prima certificada", completa Gustavo Calazans, 30, arquiteto responsável pela reforma.
Alguns exemplos de ecoprodutos que estão sendo aplicados na reforma da casa de Bresler são resinas impermeabilizantes à base de água (em vez de solvente), forro composto por embalagens de longa vida recicladas e tubulação para esgoto feita com PET reciclado.

Difícil de achar
Ainda são poucas as lojas com oferta de produtos que não agridem o ambiente. Uma opção é comprar diretamente dos fabricantes. Em alguns estabelecimentos comerciais de São Paulo, como Alto da Lapa Materiais de Construção, Ecoleo e JR Revestimentos Anticorrosivos, podem ser encontrados, isoladamente, determinados artigos ambientais.
O Espaço Casa Ecológica, que tem inauguração prevista para o próximo dia 25, propõe fazer essa reunião de insumos para facilitar a vida do cliente. Alguns exemplos do que estará nas prateleiras são tintas elaboradas sem componentes tóxicos, resinas e vernizes à base de água, "madeira" feita de plástico reciclado e placas de embalagens de longa vida e de pasta de dente recicladas.
Materiais mais pesados, como cimento, blocos, tijolos e piso feitos com matérias-primas recicladas, não estarão em estoque, mas poderão ser encomendados, e sua aplicação será explicada.
Quem tiver dúvidas sobre como fazer uma "construção ecológica" pode realizar consultas no local. No segundo semestre, há planos de abrir ao público uma biblioteca com livros sobre materiais "verdes", tecnologias alternativas de construção e modalidades de energia renovável.


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