São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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'VERDE'

Produtos ecologicamente corretos podem ser manuseados em obras da mesma forma que elementos convencionais

Aplicação dispensa técnica especializada

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se há dificuldade de encontrar materiais de baixo impacto ambiental, o mesmo não se pode dizer na hora de aplicá-los na obra. Todos são manuseados da mesma maneira que os produtos convencionalmente utilizados.
O único que requer tratamen- to específico é a caiação. "A tinta de cal não adere à massa-corrida, por isso a argamassa deve ser feita com uma mistura com base de cal", explica Márcio Augusto Araújo, do Idhea.
Alguns têm propriedades diferentes dos itens tradicionais. O cimento CP 3, feito com até 70% de resíduos da indústria siderúrgica, demora mais do que os outros para adquirir sua resistência total.
"A cura [processo de hidratação] de uma laje, por exemplo, deve durar, no mínimo, dez dias", define Arnaldo Battagin, 51, chefe dos laboratórios da gerência de tecnologia da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland).

Preparo
A mesma paciência deve ser observada no uso da cal pozolânica, composta de 30% de cal virgem e 70% de filito, uma "areia" que hidrata a mistura.
O produto é considerado "verde" por usar menos cal na formulação, poupando as fontes de calcário e minimizando a poluição, já que a queima deste para gerar a cal virgem libera gás carbônico.
"A argamassa pronta deve ser misturada com água e areia e descansar por um dia antes de o cimento ser adicionado", ensina o engenheiro Caio Guarini, 42, diretor da fabricante Minarca.
Em caso de dúvida, muitos fabricantes treinam mão-de-obra, como as empresas produtoras de tubos de polipropileno, que são fundidos, em vez de colados.
Quanto à manutenção, o óleo de linhaça e a cera de carnaúba, que tomam o lugar de vernizes e inseticidas para proteger os pisos, precisam ser reaplicados com freqüência.
"Óleos e resinas vegetais penetram na madeira, não formam apenas uma película externa. Por isso se adaptam aos movimentos dela e o revestimento não sofre fissuras nem precisa ser lixado na manutenção", diz Luis Baleriola, gerente da Ecoquimia, fabricante espanhol de produtos naturais.

Água
Mas nem só de produtos "verdes" é feita uma morada sustentável. "Outro ponto importante é analisar aspectos como a luz solar, a boa ventilação e o reaproveitamento da água de chuva e da usada em casa", lista o arquiteto Roberto Mindlin Loeb.
Na residência de Ricardo Besler, Araújo agregou o sistema de captação de água da chuva ao de tratamento do esgoto.
A água que sai de pias e vasos da casa passa por purificação biológica (bactérias consomem a matéria orgânica) e química (camadas de areia e brita retêm partículas sólidas). No reservatório, encontra-se com a água da chuva que foi filtrada e recebeu cloro.
"A união dos sistemas, que diminui o consumo de água em até 70%, saiu por cerca de R$ 7.000", contabiliza Araújo.
Em caso de reforma, a reciclagem também se estende aos materiais que geralmente são descartados, como telhas, tijolos e tacos. "Economiza viagens de caminhão e gastos com caçambas", diz a arquiteta Denise Canto, 43. (BMF)


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