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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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ARQUITETURA

Utilizados na modalidade mais simples de construção com terra, os tijolos crus são moldados manualmente

Técnicas dispensam o uso de eletricidade

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Ecologicamente corretas, as técnicas utilizadas para levantar paredes de terra não apresentam grande nível de complexidade e dispensam o uso de energia.
Os tijolos crus formam a modalidade mais simples e podem ser obtidos usando um molde ou uma prensa, geralmente manual. Depois, são assentados com barro, argamassa ou cola.
O arquiteto Ruy Arini aposta na técnica da prensa para obter a melhor compactação do tijolo. Já o arquiteto Gernot Minke prefere o adobe e gosta de moldar a terra.
Outra técnica bastante utilizada no Brasil, a taipa de pilão, levanta paredes monolíticas de grande resistência, mas é mais trabalhosa.
No exterior, máquinas fazem o papel do pilão na compactação da terra dentro de uma fôrma de aço. O serviço é feito em menos tempo, mas no Brasil o método mais adotado é o manual.
"O aluguel das máquinas é muito caro, só vale a pena em projetos de grande escala", declara o arquiteto Paulo Montoro.
"Uma parede de 2,5 m de altura e 2,15 m de largura fica pronta em cerca de oito horas, com três pessoas trabalhando [o taipeiro e dois ajudantes]", explica Paulo Ortiz, arquiteto.

Comparações
As principais diferenças entre os tijolos e a taipa estão no campo dos custos e da resistência. Montoro afirma que as paredes de taipa são mais resistentes, enquanto Arini argumenta que o preço da parede em tijolos é menor do que o da de taipa.
"A parede de taipa deve ser muito bem compactada para que não haja trincas", pondera Arini.
Para o arquiteto Sylvio Barros Sawaya, 60, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), a opção por um ou por outro método também pode ser definida com base em questões estéticas.
As paredes não precisam necessariamente ser lisas. Como na alvenaria tradicional, aceitam qualquer tipo de revestimento, sem restrições. E os tijolos também podem ficar aparentes.

Botas e chapéu
Antes de começar a remexer a terra, entretanto, alguns pontos devem ser observados. O terreno precisa ser nivelado, e as paredes não podem ficar sem proteção contra chuvas severas, que trazem o risco de erosão.
Para Arini, quanto mais acidentado o terreno, melhor. "A própria terra retirada na terraplenagem vai ser usada para fazer os tijolos ou a parede", explica.
"O segredo é ter boas botas e bom chapéu", brinca o arquiteto Marcelo Tramontano, referindo-se às fundações e ao telhado.
Ele recomenda não descuidar da impermeabilização da parede e das fundações e optar por coberturas com beiral mais largo, para evitar danos com intempéries.
Já Ortiz sugere levantar a parede de terra sobre duas camadas: uma de pedras e outra de concreto.
Nos casos em que as laterais da construção estão muito expostas a chuvas intensas, Gernot Minke costuma utilizar materiais como o óleo de linhaça para evitar danos às paredes.
A dica de Alexandre Baumgart, 33, diretor da Otto Baumgart -fábrica especializada em impermeabilizantes-, para evitar que a umidade invada a casa é trocar as tintas plásticas (o látex retém a umidade) pelas elaboradas com base mineral.
"Com isso, permite-se que a água entre em estado líquido e também que haja saída de vapor para que a parede respire."
(BRUNA MARTINS FONTES)


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