São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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CASA, DO ALICERCE AO TELHADO

Instalações elétricas residenciais malfeitas esbanjam o suficiente para iluminar uma cidade de 100 mil habitantes

País desperdiça uma Barretos por mês

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Ligação elétrica ilegal, conhecida popularmente po "gato", é realizada por morador de loteamento clandestino, na zona leste de São Paulo


ANDREA MIRAMONTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pagar apenas pela energia consumida, não deixar que os eletrodomésticos queimem e simplesmente se esquecer de que há fiação correndo pelas paredes não são as únicas vantagens de ter as instalações elétricas em ordem.
A importância do assunto transpassa os limites da casa e abrange a economia de todo o país. Em razão de instalações elétricas residenciais malfeitas, o Brasil desperdiça R$ 75 milhões por mês. Isso equivale à perda de 312.480 megawatts-hora a cada 30 dias, de acordo com pesquisa encomendada pelo Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre) à Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).
"Daria para iluminar uma cidade de 100 mil habitantes", segundo o engenheiro Edson Martinho, coordenador técnico do instituto. É quase um município como Barretos (a 424 km de São Paulo), que tem 103 mil. Além de jogar energia e dinheiro fora, donos de instalações inadequadas se arriscam a ver seu imóvel em chamas.
"É muito perigoso. Uma das causas, como a rede mal dimensionada, gera o aquecimento dos fios, o que resseca a capa protetora e isolante do cobre, deixando-o exposto, com risco de curto-circuito e até de incêndio", diz Racine Prado, professor da Poli-USP.

Da mão-de-obra ao projeto
É preciso tomar cuidados na escolha da mão-de-obra, na compra do material e, principalmente, no planejamento. Um bom projeto não prevê somente os circuitos que abastecem a casa, mas a fiação para o telefone e até para a TV a cabo, se essa for a opção do cliente na construção.
"Para fazer o planejamento, gastam-se em torno de R$ 5 por metro quadrado", diz o engenheiro Sandro Gazole Miotti, da Z. Cec Engenharia. Já o custo do material e da mão-de-obra em uma casa de padrão médio sai de R$ 30 a R$ 40 por metro quadrado.
"A fiação é pensada para uma instalação inteligente, com o quadro de distribuição próximo ao ambiente onde estão os aparelhos que consomem mais. Assim, condutores de maior seção [espessura do cobre", que custam mais, são usados com moderação", diz.
O dimensionamento dos condutores (espessura adequada do cobre dos fios ou cabos) deve ser uma das principais preocupações. "Se a rede é subdimensionada, não suporta a quantidade de energia. Se exagerada, gasta-se demais. Daí a importância do projeto", explica Marcelo Rodrigues, supervisor técnico da Reiplás, fabricante de condutores.
Embora seja o ideal, nem todos gastam com o planejamento. Para o engenheiro civil e eletricista Paulo Rewald, sócio do escritório Manfredo Rewald, geralmente as pessoas que constroem casas menores fazem a parte elétrica com um eletricista, em vez de projetar.
"Infelizmente quem faz um imóvel até uns 200 m2 elabora e executa a rede elétrica com um conhecido. Nas casas acima dessa metragem, o preço do projeto sai a partir de R$ 6.000, dependendo da complexidade. Se há automação e piscina, o custo sobe."
Pior do que ter um serviço malfeito, economizar em mão-de-obra pode ser perigoso. Por achar que mexer na rede elétrica seria uma tarefa fácil, o funcionário público Arnaldo Florentino da Silva quase acabou perdendo o movimento dos dedos da mão. "Fui fazer uma emenda e não desliguei a rede. Tomei um choque e um dos meus dedos ficou dormente por dois meses", conta.



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