São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Consumo atual em São Paulo só pode ser mantido por cinco anos, segundo Sabesp

Sistema de reúso e consumo racional do líquido amenizam pressão da demanda

Casa sustentável deve beber pouca água

DÉBORA DIDONÊ
MARIANA IWAKURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Consumir o mínimo de recursos naturais e fazer bom uso deles é indispensável à casa sustentável. No ambiente urbano, especialmente em uma metrópole, nenhum elemento traduz melhor essa preocupação do que a água.
Na Grande São Paulo, por exemplo, 4,1 bilhões de litros de água são consumidos diariamente pelas 18,2 milhões de pessoas que estão ligadas à rede de distribuição da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Mas essa abundância pode chegar a um limite.
Nesse nível, o fornecimento só pode ser garantido para "os próximos cinco ou seis anos", segundo Paulo Massato Yoshimoto, diretor metropolitano da Sabesp. "Se continuarmos a crescer nessas taxas demográficas sem um programa forte de uso racional, a solução será buscar água em outras bacias", diagnostica.
Até agora, a solução para suprir o consumo na região metropolitana foi buscar outras fontes, segundo Yoshimoto, o que exige investimento e encarece a tarifa de fornecimento da água.
Para o professor Uriel Duarte, do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo), a situação não chega a ser tão calamitosa. "O que temos de água é suficiente e sustentável. Poderíamos estar com até 5 milhões de habitantes a mais e mantermo-nos no mesmo ritmo de abastecimento", explica.
O fornecimento ideal para a população da Grande São Paulo é de 58 m3 a 62 m3 por segundo, de acordo com Duarte. Esses valores, aponta, são menores que o nível de fornecimento atual da Sabesp, que é de 66 m3 por segundo.
"Nós desperdiçamos água. Como temos um costume centrado no custo e a água é relativamente barata, não mantemos o espírito de economia. Mas, gastando menos, manteremos uma margem para o aumento populacional."

Uso racional
O melhor meio de solucionar o gargalo da água, segundo especialistas, não é investir em novas bacias, e sim na conscientização sobre o uso racional do insumo.
O primeiro passo é usar água potável somente quando for indispensável. "Na indústria e em atividades agrícolas, a água fornecida não precisa ser potável. Isso também vale para irrigar gramados, lavar calçadas ou veículos e para a descarga de vasos sanitários", enumera Aldo Rebouças, do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo).
Outro modo de poupar o líquido é reduzir seu consumo em chuveiros, vasos sanitários e torneiras. Adotar um sistema de reúso também diminui a pressão do consumo sobre o sistema de abastecimento (leia texto ao lado e quadro abaixo).
Para dar um impulso à economia de água, a Prefeitura de São Paulo aprovou recentemente a criação do Programa Municipal de Conservação e Uso Racional da Água em Edificações, que prevê o uso de bacias sanitárias, de torneiras e chuveiros econômicos e de hidrômetros individuais em condomínios.
A medida agradou a especialistas. "O problema é que ninguém vai fiscalizar essa lei", opina Ivanildo Hispanhol, presidente do Cirra (Centro Internacional de Reúso da Água).
O vereador Aurélio Nomura (PV-SP), autor do projeto, diz que o controle será possível por meio das próprias contas de água. "Elas apontam o consumo e, assim, pode-se verificar se os sistemas foram implantados ou não. Será como na época do apagão."
Em Curitiba, um levantamento mostrou que a cidade teria problemas de abastecimento ao atingir a marca de 5 milhões de habitantes em 2010. Por isso, em 2003, foi aprovada uma lei determinando que as edificações tenham bacias de 6 litros e medição individualizada para cada apartamento, além de opções para o reúso.

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