São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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Entulho de alvenaria vira areia e brita e é usado no concreto para base de pisos

Duas áreas de transbordo reciclam e vendem agregados na Grande São Paulo


Restos de obra viram concreto de novo

Renato Stockler/Folha Imagem
A base das vias da USP Leste foi feita com concreto reciclado


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A preocupação com a sustentabilidade não acaba na definição dos materiais que serão usados na obra. Para fechar o ciclo, é importante saber o que será feito com os restos do canteiro e com o entulho gerado em demolições.
Em São Paulo, construções e reformas geram 17 mil toneladas de entulho por dia, volume que representa o dobro do que é descartado no lixo domiciliar.
Cerca de 95% desse volume vem de obras privadas. Desse total, 85% são transportados por empresas particulares, e o restante (15%) acaba virando problema de limpeza pública: é despejado em áreas públicas ou terrenos por transportadores "autônomos".
Em 2002, o governo federal deu início à tentativa de organizar esse quadro. A resolução 307, do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), estabeleceu que os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis por seu entulho (saiba mais no quadro acima).
Ela também prevê que o engenheiro e o dono da obra possam ser multados se a transportadora for flagrada despejando o conteúdo de caçambas em área irregular.
A resolução entrou em vigor neste ano e foi o pontapé inicial para que os municípios implantassem planos de gerenciamento desses resíduos. Em São Paulo, porém, esse projeto ainda não virou lei, o que dificulta a punição de quem não seguir as diretrizes da resolução.

Entulho reciclado
O que sai de uma obra pode ser usado em outra. Isso porque os restos de alvenaria demolida podem ser moídos e peneirados, substituindo matérias-primas como areia e brita para fazer concreto, o que reduz a extração desses recursos da natureza. Esse concreto reciclado geralmente é usado como base para pavimentação.
Na Grande São Paulo, duas ATTs reciclam esse entulho e vendem agregados reciclados. Os ecopontos encaminham o que recebem para a reciclagem (veja quadro acima).
Os quatro ecopontos (Bresser, Tatuapé, Pinheiros e Santo Amaro) recebem até 1 m3 de entulho. Outros dois deverão ser inaugurados nos bairros de Vila Prudente e São Miguel Paulista.
Ainda é pouco: a cidade recicla apenas 500 toneladas, 3% do que produz por dia. Belo Horizonte, que tem o melhor índice do país, recicla 20% do entulho.

Novas ATTs
São Paulo tem só duas ATTs legais, mas oito estão em licenciamento. Desde outubro, o processo ficou mais ágil. Uma portaria do prefeito José Serra (PSDB) permite conceder licenças provisórias, que saem em até 15 dias.
O dono da ATT tem um ano para regularizar o empreendimento e, se provar que está com o licenciamento definitivo em curso, sua licença será renovada.
"Isso vai desobstruir o processo", elogia o arquiteto Tarcísio de Paula Pinto, responsável pelos planos de gestão das prefeituras de São Paulo e de Guarulhos e consultor técnico do Conama.
Para quem não mora perto de nenhum ecoponto ou ATT e vai fazer uma reforma, a dica na hora de contratar um serviço de recolhimento de entulho é verificar na prefeitura se o serviço é cadastrado (pelo telefone 156 ou pelo site www.limpurb.sp.gov.br). É importante pedir uma cópia do Controle de Transporte de Resíduos (CTR), que indica qual foi a destinação do entulho.
O contratante deverá exigir que o material seja levado a um local adequado, pois poderá ser responsabilizado legalmente se isso não ocorrer. Para combater a clandestinidade, a prefeitura regulamentou as caçambas. Sua permanência máxima nas ruas passará de cinco para três dias.(RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO)

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