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Não me sinto criminoso, fiz por amor a meu irmão

DEPOIS DE FICAR 30 DIAS PRESO, JOVEM AFIRMA QUE FOI PERDOADO POR TER AJUDADO EM MORTE

RAFAEL ITALIANI
ROBSON VENTURA
DO "AGORA"

O tapeceiro Roberto Rodrigues de Oliveira, 22, que confessou ter matado o irmão tetraplégico, em um assalto forjado, com dois tiros, a pedido da própria vítima, conseguiu a liberdade provisória ontem. Ele ficou preso por 30 dias na cadeia pública de Rio Claro (173 km de SP).

De acordo com Roberta Weygand, advogada de Oliveira, o pedido de prisão temporária foi revogado.

A defesa do tapeceiro também conseguiu anular a prisão preventiva. "Roberto ainda está bastante afetado devido à tragédia", disse ela.

Segundo a polícia, no último dia 22 de outubro, o tapeceiro deu um tiro na cabeça e outro no peito de Geraldo Rodrigues Oliveira, de 28 anos, que era tetraplégico há dois, quando o irmão o desafiou para um racha.

Na disputa, o carro da vítima capotou. Roberto estava de moto.

Familiares disseram, em depoimento, que Geraldo reclamava: "Nem me matar eu consigo."

A vítima dizia que o irmão deveria acabar com seu sofrimento. Chegaram a cogitar o uso de veneno, descartado por Geraldo, que ficou com medo de incriminar o irmão.

No dia do crime, Roberto colocou touca e luvas cirúrgicas e simulou um roubo.

A polícia desconfiou, já que um tetraplégico não poderia oferecer resistência. Roberto, então, confessou.

Em entrevista exclusiva, Roberto afirma que fez "por amor". No escritório de suas advogadas, em Rio Claro, manteve a cabeça baixa e evitou dar detalhes sobre a morte do irmão. Disse que vai voltar ao antigo emprego.

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Agora - Como se sente após o tempo em que ficou preso?

Roberto Rodrigues de Oliveira - Estou mais tranquilo por ter saído, mas ainda preocupado por minha situação com a Justiça. Dividi cela com 13 pessoas. Me senti acabado, um nada, excluído da sociedade.

Como sua mãe reagiu à prisão?

Ela ficou traumatizada. Fui algemado na frente dela. A única visita que me fez a deixou acabada e pedi para não ir mais.

E após a sua soltura?

Me recebeu bem. Ela fez um café para mim do jeito que eu gosto, mas ainda está traumatizada pelo que aconteceu (separação de Geraldo e morte de outro irmão em um acidente).

Você se sente um criminoso?

Não me sinto. Não fiz por maldade, infelizmente tive que fazer isso por amor. Não víamos outra solução e ele (Geraldo) estava decidido sobre o que queria.

Em que pensou ao ser preso?

Preferia ficar dez anos preso do que ser julgado pela minha família.

E hoje? Sua família te perdoou?

Sim. A família entendeu que fiz por amor.

Como era a relação entre vocês?

Eu cuidava dele. Dava banho, escovava os dentes, servia comida, trocava as fraldas. Ficávamos assistindo a televisão juntos.

O Geraldo pedia para matarem ele?

Sim. Sempre oferecia dinheiro para alguém da família dar veneno para ele.

Por que vocês descartaram o plano do veneno?

Ele achou que fosse me incriminar.

Cobrava de você pelo acidente?

Ele dizia: "Você precisa fazer essa por mim". Jogava para cima de mim essa questão.

O que você espera da Justiça?

Queria uma nova oportunidade, todo mundo tem direito a uma segunda chance e eu não sou bandido. Fiz por amor ao meu irmão. Isso deve ser usado ao meu favor.

Como vai ser sua vida?

Não quero mudar de cidade e quero continuar trabalhando.

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