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Masp usa vão-livre como estacionamento

Espaço em que carros são manobrados é tombado; promotor vê risco de danos à estrutura de prédio na av. Paulista

Diretoria do museu diz que uso do vão-livre é 'única saída'; órgãos de proteção afirmam que vão vistoriar o local

CRISTINA MORENO DE CASTRO
FABIO BRAGA
DE SÃO PAULO

Em fila, os carros sobem por uma rampa improvisada (já que a calçada não é rebaixada) para serem atendidos pelos manobristas de valets. Dois estão estacionados ali no momento.

A cena não chamaria a atenção não fosse um detalhe: o local em que os carros são manobrados e, às vezes, estacionados é o vão-livre do Masp, o Museu de Arte de São Paulo, tombado por órgãos de preservação municipal, estadual e federal.

Abaixo do vão-livre há três andares de subsolo, com exposições e a reserva técnica do museu. Para preservar esses subsolos, o Masp diz, em seu site, que há "um limite de capacidade de peso a ser suportado pelo vão-livre".

A Folha flagrou a cena na noite da última quarta e ouviu relatos de outras quatro vezes em que a área foi usada para o tráfego de veículos dos visitantes do museu.

A própria diretoria do Masp admite que isso é corriqueiro há "vários anos" e responsabiliza organizadores e patrocinadores de eventos pela contratação dos valets, mas diz concordar com o uso, porque é "a única saída".

IRREGULARIDADES

O promotor Washington Luis Lincoln de Assis diz que vai propor a instauração de inquérito para apurar as irregularidades na próxima reunião da Promotoria do Meio Ambiente, na primeira semana de dezembro.

"O fluxo de veículos não condiz com a função do prédio e sua qualidade de bem de alta relevância cultural e caracteriza gestão de bem público de modo temerário. Tal uso deveria passar pelo crivo dos órgãos de proteção, devido ao risco de danos ao bem tombado", diz ele.

Segundo o promotor, a prefeitura - que administra o espaço público do vão - e a direção do Masp, podem responder por crimes de deterioração de bem protegido por lei. Os órgãos que o tombaram devem fiscalizar o local.

Os órgãos de proteção -Iphan (federal), Condephaat (estadual) e Conpresp (municipal)- informaram que vão agendar vistorias para constatar o uso como estacionamento e tráfego de veículos, que confirmam ser irregular.

"Vamos imediatamente solicitar informações ao Masp e deixar claro que o vão não é local para tráfego de veículos, um absurdo", diz Marcos Carrilho, arquiteto do Iphan.

Renato Anelli, professor de arquitetura da USP e conselheiro do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi (respectivamente a arquiteta que projetou e o decano do Masp) considera que o fluxo de carros sobre o vão pode trazer problemas à estrutura, mais pela vibração do que pelo peso dos veículos. "É totalmente inadequado transformar os espaços nobres da cidade em estacionamento de valet."

Veja imagens do vão-livre do Masp

folha.com.br/fg5532

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