Com ano letivo atrasado, pais improvisam aulas

O atraso no início do ano letivo em escolas públicas de Manaus levou os pais a buscar alternativas para os filhos não perderem o interesse pelo estudo nem a autoestima.

Mesmo com poucos recursos, alguns pagaram cursos de inglês e de informática, enquanto outros -a maioria de baixa escolaridade- fizeram o papel de professor em casa.

Como a Folha mostrou ontem, cerca de 23,5 mil alunos de Manaus iniciaram as aulas em 2011 com, no mínimo, seis meses de atraso devido a reformas nas escolas. Em ao menos uma, o ano letivo só deve começar neste mês.

Alunos de 39 escolas, sendo uma da rede estadual, terão um calendário especial para recuperar aulas em meio às festas de fim de ano e em 2012, inclusive aos sábados.

A família de Alexsandro Neres, 14, aluno de uma escola onde o ano letivo começou na segunda, não teve recursos para pagar aulas de reforço. Coube à irmã mais velha, a auxiliar de serviços gerais Rosane Campos Barreto, 25, repassar as lições de 2010.

As "aulas" ocorriam à noite, após Rosane sair do trabalho. Ela não chegou a concluir o ensino fundamental. "Ensinei matemática, português e geografia para quando ele retornar às aulas não chegar tão atrasado", disse.

A dona de casa Graça Moreno, 61, matriculou a neta Karla Raíssa, 13, em um curso de inglês, depois que ela ficou deprimida sem aulas. O dinheiro, entretanto, deu só para dois meses.

O Ministério Público afirma que as escolas não estão cumprindo a reposição. A Promotoria diz que, aos sábados, quando são realizadas as aulas de reposição, há escolas que fecham e outras que dão aulas só por duas horas. Com isso, há risco de o conteúdo não ser cumprido.

O secretário municipal de Educação, Mauro Lippi, não respondeu, até a conclusão desta edição, às perguntas enviadas pela Folha.