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Mais um ano sem Natal

Nesta semana, um garoto de 14 anos atropelou e matou o desempregado Vaderli Gonçalves, 45; matou também o sonho de uma família se unir novamente

ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

Hoje, faz 12 anos e um dia que o mês de dezembro, incluindo o Natal, tornou-se o período mais triste do ano para a aposentada Efigênia Lopes Vieira Gonçalves, 73.

No dia 9 de dezembro de 1999, ela perdeu o marido, o pedreiro conhecido como Geraldo Beijinho, após sofrer um infarto. Morreu de repente, quando saía do banho.

Ao lado dele, Efigênia passou a maior parte da vida e criou seus oito filhos.

Este ano, após ouvir os apelos da família, Efigênia ameaçava abrir novamente o coração para as festas de Natal. Ainda resistia, mas parecia disposta a ceder.

A possibilidade deixou a família eufórica. Havia meses que os parentes compravam presentes para serem distribuídos por um Papai Noel. "Queríamos mostrar pra ela que o Natal não é só tristeza", diz o neto Heraldo Robson Vieira Santos, 23.

Hoje, 10 de dezembro, a família acredita ter perdido todos os argumentos.

O desempregado Vaderli Gonçalves, 45, o Liliu, que foi enterrado anteontem no cemitério São Luís (zona sul), era um dos oito filhos da aposentada. Era também o único que morava com ela.

"Ele era a única companhia que minha avó tinha", conta Heraldo.

Liliu morreu na terça-feira desta semana, após ser esmagado entre uma lixeira e um carro desgovernado, dirigido em alta velocidade por um menino de 14 anos.

Antes de atropelar o desempregado, o jovem foi visto fazendo estripulias com o Palio -carro do namorado da mãe- pelas ruas do Campo Limpo, na zona sul.

Dentro do carro, havia mais dois outros jovens. A mãe do garoto, uma corretora de imóveis de 33 anos, afirma que não o viu pegar o veículo porque estava dormindo naquele horário.

A polícia investiga a versão. O atropelamento ocorreu por volta das 19h, mas testemunhas dizem que o estudante dirigia o Palio pelas ruas do bairro desde às 15h.

À BASE DE CHÁ

Liliu, que estava desempregado e vivia de pequenos bicos, subia pela rua Paulo Hankar carregando chocolates que estava levando para suas sobrinhas.

"O Liliu era adorado pelas crianças. Ele subia essa rua todos os dias acompanhado por três crianças que buscava na escola. A tragédia poderia ser ainda maior", diz o auxiliar de produção Danilo Ribeiro Correia, 25.

Foi Correia quem perseguiu o menor e conseguiu detê-lo. "Nem sabia que era o Liliu. Se soubesse, acho que teria dado uns tapas naquele menino e não tê-lo protegido", afirma.

Efigênia, segundo contam parentes, não teve coragem de ver o corpo de Liliu após o acidente desta semana.

A aposentada não esteve no velório nem no enterro do filho, assim como aconteceu há 12 anos na morte de Geraldo, seu marido.

Ficou em casa, amparada por amigas, à base de chás.

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