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Gilberto Dimenstein

Inveja do Itaquerão

Em comparação com outras cidades, São Paulo está atrasada na indução de parques tecnológicos

TEM LANÇAMENTO previsto ainda para este ano na Cidade Universitária uma experiência capaz de estimular os jovens mais inovadores da cidade de São Paulo.
Localizado numa área de 9.000 metros quadrados dentro do campus da USP, o Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia) está se preparando para montar uma espécie de incubadora de incubadoras de negócios. O objetivo é espalhar pelo ensino superior a mentalidade de que os jovens, em vez de ficarem só trancados numa sala de aula, aprendendo teorias frequentemente distantes da realidade do mercado de trabalho, tenham em suas faculdades núcleos de empreendedorismo, orientados por professores e executivos, conectados a governos e a investidores.
É difícil saber se um projeto desse tipo vai dar certo, afinal envolve diferentes parcerias e máquinas burocráticas, acostumadas à letargia. É possível saber, porém, que o brilho de uma cidade depende, em parte, de que prosperem polos de inovação e inteligência -e, portanto, de empregos.

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A ideia é que, já no próximo ano, sejam escolhidos cem estudantes universitários que, recebendo uma ajuda de custo e um espaço na Cidade Universitária, sejam orientados por professores acostumados a montar modelos de negócios. Depois de um ano, os projetos mais promissores farão parte do Cietec até que decolem.
Esse é um lugar propício para fazer uma experiência desse tipo. O centro foi escolhido pela Microsoft para desenvolver uma plataforma virtual para a formação de start-ups. Daquela incubadora saíram um veículo aéreo não tripulado, adesivos ecológicos, colas ecológicas, um sistema mundialmente reconhecido de reciclagem de luzes fluorescentes e métodos inovadores de uso da energia solar.

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Esse projeto, batizado de São Paulo Ideias Novas, nasce na Cidade Universitária, mas em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento da cidade de São Paulo, com uma rede de empresas juniores e com uma série de faculdades, entre as quais a PUC, a USP, o Insper, o Mackenzie, a FGV, a Faap e a ESPM, ou seja, a elite universitária não só da cidade de São Paulo mas do país. A função das empresas juniores seria detectar os inovadores que merecem ser apoiados.
O que se pretende é fazer do projeto dentro da USP um modelo para estimular as demais faculdades a ter suas próprias incubadoras.
Exemplo de um projeto já candidato à incubadora: alunos da Unicsul desenvolveram um tijolo ecológico feito com fibra de coco. O poder público se comprometeria a usá-lo em algumas de suas obras, o que ajudaria a atrair o interesse de investidores.

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Um dos fatos que me chamam a atenção nos Estados Unidos é um projeto da cidade de Nova York para gerar empregos inovadores. A prefeitura separou um imenso terreno e está fazendo uma concorrência para entregá-lo a uma universidade, que vai receber incentivos fiscais. O papel dessa universidade será gerar negócios para seus alunos. Daí que Stanford, um dos fatores decisivos para o surgimento do Vale do Silício, se interessou pela ideia. Atribui-se a essa universidade o envolvimento na criação de 6.000 empresas.
Há um indicador desenvolvido em Boston, o principal centro de educação americano, sobre o quanto a cidade ajudou, graças a esses alunos e empresas inovadoras, a gerar riqueza em todo o país.

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Apesar de ser a sede da mais importante universidade da América Latina, a cidade de São Paulo está incrivelmente atrasada em comparação com cidades de países desenvolvidos. Mais atrasada até que cidades como Piracicaba, Sorocaba, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Santa Rita do Sapucaí, Belo Horizonte (nem vou comparar aqui com São José dos Campos), onde o poder público é indutor de parques tecnológicos nas mais variadas áreas, de energia a telecomunicação.
O projeto de um parque tecnológico ao lado da USP anda a passos analógicos (por enquanto, só existe a pedra fundamental) num mundo de velocidade digital.

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É algo que simplesmente não combina com a alma empreendedora da cidade de São Paulo.

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PS - Nem precisa ser tão rápido. Mas, se o poder público se empenhasse em desenvolver um parque tecnológico em São Paulo, ao lado da USP, tanto quanto está empenhado na construção do Itaquerão, um estádio de futebol, já estaria bom.

gdimen@uol.com.br

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