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Sequência de mortes leva medo a Jandira, na Grande São Paulo

Em dez anos, cinco políticos foram assassinados na cidade; caso mais recente ocorreu na última semana

No ano passado, o então prefeito foi morto e dois de seus ex-secretários são suspeitos de serem mandantes do crime

AFONSO BENITES
ENVIADO ESPECIAL A JANDIRA (SP)

"Quem faz qualquer denúncia em Jandira, morre." O alerta foi dado por 18 dos 23 moradores da cidade entrevistados pela Folha na última sexta-feira. Entre eles estavam médicos, advogados, funcionários públicos, contadores, garis e comerciantes.
O clima de medo voltou ao município da Grande São Paulo na semana passada depois que um pré-candidato a prefeito foi morto com cinco tiros na frente de seu bar.
Luiz Decarli Filho, o Goiaba, tinha acabado de lançar candidatura pelo PTC e, por ser polêmico, estava angariando rápido apoio de parte da população. Onze dias antes de ser morto, Decarli Filho concedeu entrevista a um jornal local criticando vereadores, prefeitura e polícia.
"Se alguém reclama publicamente, leva bala. Tem que se manifestar nas urnas", disse uma funcionária pública.
Decarli Filho foi o sexto político assassinado em Jandira. Desde 2001, foram quatro "execuções sumárias", segundo a polícia (veja quadro).
No ano passado, a principal vítima foi o então prefeito Walderi Braz Paschoalin (PSDB). A morte dele revelou uma intensa disputa pelo poder na cidade, que tem um orçamento de R$ 164 milhões. Dois ex-secretários de sua gestão são suspeitos de ter mandado matá-lo. Outras nove pessoas foram acusadas formalmente pelo crime.
"Temos convicção de que a morte do Braz e de outros dois vereadores aconteceram por conta da disputa do poder na cidade", disse o delegado Zacarias Tadros.

METAMORFOSE
Fundada em 1964, Jandira já foi uma cidade dormitório, palco de chacinas e terreno para desova de cadáver.
No início da década de 90, conforme policiais ouvidos pela Folha, mensalmente de 10 a 15 corpos eram encontrados nos 17 km² do município.
Desde 2001, quando houve 49 assassinatos, o índice de homicídios dolosos (intencionais) vinha baixando. Em 2010, foram seis casos.
A mudança se deve ao novo perfil do município. A antiga cidade dormitório hoje é sede de indústrias químicas e de logística, tem seis condomínios de luxo e uma alta densidade demográfica (6.124 habitantes por km²).
O recrudescimento do crime preocupa autoridades. Neste ano, foram 14 assassinatos até setembro, além de uma série de denúncias de corrupção na prefeitura.

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