São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2005

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SOB NOVA DIREÇÃO

Frederico Bussinger (Transportes) só garante que elevação não sairá neste mês; mudança no bilhete único é estudada

Secretário projeta reajuste de ônibus em 2005

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo José Serra (PSDB) vai "perseguir obstinadamente" a integração do bilhete único dos ônibus com metrô e trem ainda em 2005, afirma Frederico Bussinger, 54, novo titular da Secretaria Municipal dos Transportes.
A equipe ainda nem sabe como será a integração: só tecnológica, permitindo descontar créditos do cartão nas catracas dos dois sistemas, ou com mais descontos tarifários. Tenta, porém, antecipar a medida para ampliar aquela que foi vitrine de Marta Suplicy (PT).
Mas esse compromisso pode virar atenuante político de ações impopulares que estão por vir.
Bussinger critica a herança pela "precipitação na implantação" do bilhete único, a necessidade crescente de subsídios e, depois de questionamentos insistentes, admite que cogita alterações nas regras do benefício, que permite hoje baldeações livres nos ônibus e lotações por duas horas.
Se a promessa de Marta era manter a tarifa a R$ 1,70 em 2005, a de Serra se limita a janeiro. O novo secretário diz que "a conta não fecha" com os números usados pela petista, sinalizando um inevitável aumento da passagem.
O secretário também diz que vai estudar mudanças nas regras do rodízio e até mesmo um pedágio urbano -embora essa discussão não esteja colocada hoje.
Leia abaixo trechos da entrevista dada por Bussinger à Folha na última quarta, na qual ele evita usar os nomes de projetos dos últimos prefeitos -como Passa-Rápido (corredor de ônibus à esquerda, de Marta) e Fura-Fila (de Pitta)- sob a alegação de que Serra é "homem dos genéricos":

Folha - Quais são as maiores preocupações do sr. no início da gestão?
Frederico Bussinger -
No trânsito, em muitos casos piorou muito. A população está a ponto de explodir. No transporte, houve melhoria nos serviços e na imagem, mas há um legado a ser trabalhado. Temos que discutir como estabiliza esse sistema e como paga a conta. Em 2004 deve fechar com R$ 280 milhões de subsídios, está aprovado R$ 340 milhões no Orçamento de 2005 e há uma dúvida de quanto é que será necessário.

Folha - Os R$ 340 milhões podem não ser suficientes?
Bussinger -
Conversamos muito, mas muitos dados não sabemos.

Folha - Os empresários já chegaram a falar em quanto?
Bussinger -
Vi simulação que chegou aqui de R$ 750 milhões.

Folha - Quem fez?
Bussinger -
Não sei, é um estudo, aliás, muito bem elaborado.

Folha - Os problemas financeiros referem-se ao bilhete único?
Bussinger -
O bilhete único é de extrema importância. No sistema concebido originalmente, havia uma tarifa local mais barata. E seria estudada no futuro uma tarifa integrada. Eu poderia ter implantado esse meio eletrônico sem a tarifa temporal de duas horas. Só que, ao longo do ano, pela precipitação da implantação, que rendeu dividendo político, foi para duas horas. Mais: quando se falava da política temporal, havia alguns intertravamentos, não poderia ir e voltar, só poderia fazer as integrações num mesmo sentido. É preciso calcular o efeito disso.
A imagem do bilhete é positiva, houve benefício para a população em geral. Mas tem um ônus.

Folha - O sr. acredita em que mudanças para equilibrar a questão financeira: a redução do tempo...
Bussinger -
Há duas preocupações com subsídio: é alto e crescente. Quando eu aprovo orçamento de R$ 340 milhões, já superior ao do ano anterior, e eu tenho a antevisão de que esse valor pode não ser isso, é muito discutível se isso é uma verdadeira justiça social. Porque posso até estar beneficiando os usuários, mas estou onerando os contribuintes. Ou seja, pode deixar de pagar no ônibus e pagar mais no imposto.

Folha - Vocês pensam em alterar as regras do bilhete único?
Bussinger -
Há um compromisso muito mais amplo do prefeito sobre isso, envolvendo sistemas sobre trilhos e intermunicipal.

Folha - Mas como farão isso sem agravar a questão orçamentária?
Bussinger -
É um grande desafio.

Folha - Mudar as regras do bilhete seria uma solução?
Bussinger -
A solução é um sistema socialmente justo, mas sustentável economicamente.

Folha - Para isso estão descartadas mudanças no bilhete único?
Bussinger -
Temos uma orientação de discutir isso para implantar essa integração [com o sistema sobre trilhos] ainda neste ano.

Folha - Ainda em 2005?
Bussinger -
É. E tem muito a ser discutido, a forma tecnológica, os investimentos, os subsídios...

Folha - As regras também?
Bussinger -
Também. São sistemas com regras muito diferentes. Isso terá de entrar em discussão.

Folha - A prefeita havia prometido na campanha manter a tarifa congelada em 2005. Serra, na época, disse que, se Marta estivesse falando com números certos, também manteria. O sr. acredita hoje que Marta tinha números certos?
Bussinger -
Diria a você que não. Porque, se ela tinha números certos, fez orçamento de R$ 340 milhões [para subsídios], que seria suficiente, e agora se vê que pode ser até R$ 700 milhões, então alguma coisa está errada.

Folha - A questão do aumento de tarifa será inevitável em 2005?
Bussinger -
Nós temos uma orientação clara de que, em janeiro, não haverá aumento. O prefeito já definiu. Necessitamos levantar todas as coisas. Pelo andar da carruagem... Eu não me lembro dessa declaração dela [Marta Suplicy]. Mas essa conta não fecha.

Folha - Vocês farão novos Passa-Rápido?
Bussinger -
Deixe-me dizer, até como regra geral: nosso prefeito é um homem dos genéricos. Então a nós só interessa princípio ativo. Não estamos ligados nas marcas fantasias. A existência de corredores é uma diretriz geral e, onde necessário, será aplicada. E será dado impulso à medida da necessidade e possibilidade de recursos.

Folha - Mas a intenção é fazer novos corredores?
Bussinger -
Não há nenhum antagonismo em relação aos corredores, é uma necessidade. Mas estamos até pensando uma coisa mais abrangente. São Paulo tem 15 mil km de vias. Imaginamos um plano para escolher 1.500 km como viário estratégico, para operar, não só monitorar. Hoje se monitora 500 km.

Folha - O que significa operar?
Bussinger -
Nós temos um conjunto de estradas em São Paulo de primeira linha [sob administração da iniciativa privada]. É a idéia, um viário para ser classe A.

Folha - Mudar as regras atuais do rodízio está na ordem do dia?
Bussinger -
Essa discussão precisar ser... O rodízio nunca foi pensado para ser uma solução definitiva. O relatório que a CET apresentou [de queda no cumprimento] mostra bem que ele tem parte da eficácia comprometida. Então, vamos avaliar. Pode ampliar horário, área abrangida, número de placas, pode se restringir ao viário estratégico. Vamos avaliar.

Folha - Essa discussão será feita logo no primeiro ano?
Bussinger -
É possível. Você pode até implantar algumas soluções experimentalmente.

Folha - E pedágio urbano?
Bussinger -
Ele pode vir a ser discutido. Não é uma discussão colocada hoje. Mas São Paulo já tem pedágio urbano. Quando eu, para acessar áreas do centro, tenho que pagar estacionamento por meia hora de R$ 5, R$ 6, R$ 7, já estou pagando um pedágio.

Folha - A gestão Marta havia prometido um trecho do Fura-Fila em janeiro. O sr. fará a inauguração?
Bussinger -
Somos do genérico.

Folha - Veículo Leve sobre Pneus.
Bussinger -
Todo mundo sabe que ele foi concebido muito mais como solução de marketing. Existe VLP no mundo inteiro. O problema é que, da concepção original, muito do que existe hoje inexistia. Porém já foi investida soma considerável de recursos. Uma coisa é certa: vai ter que ser analisada a relação benefício/custo. Em princípio, investimentos adicionais para concluir terão que ser acompanhados de previsão de aumento de demanda.

Folha - Então, se os estudos mostrarem que não haverá demanda, vocês deixam de concluir a obra?
Bussinger -
Não estou dizendo que a lógica é não construir. A lógica é ver a melhor forma de conclusão que carregue esse sistema.

Folha - Mas inaugurar esse pequeno trecho em janeiro...
Bussinger -
Não sei. Inaugurar por inaugurar não é o caso.

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