São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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Rave disfarçada agita litoral e interior

Restrições impostas por municípios levam produtores a driblar normas para realizar festa de música eletrônica

Em Ubatuba, alegação é de que som alto mata passarinhos; tática é restringir convidados e duração do evento

Adriano Vizoni/Folhapress
Festa "open-air" em fazenda no interior de São Paulo, como passaram a ser chamadas as raves após serem proibidas em algumas cidades do Estado

ELIDA OLIVEIRA
ENVIADA ESPECIAL A ITU

Restrições a raves no interior e no litoral paulista têm levado produtores a driblar normas para realizar a festa.
As estratégias básicas para evitar proibições são mudar o nome do evento (em vez de "raves", são chamados de "open-air" e "privates") e reduzir seu tempo de duração.
Ao menos sete cidades restringiram ou proibiram raves sob a alegação de que há uso excessivo de drogas, álcool, presença de menores de idade e prejuízos ambientais.
Em seis delas, as festas continuam, mas adaptadas.
As prefeituras de São José do Rio Preto, Itu, Guarujá, Sorocaba e Ribeirão Preto proibiram as raves via leis.
Em Campinas, as festas foram proibidas pela Justiça e, em Ubatuba, a legislação ambiental é a justificativa para vetar eventos do gênero.
Os empresários do setor negam que estejam driblando as normas. Dizem que se adaptaram para sobreviver.
A Folha esteve numa rave em Itu no final do ano. Lá, a festa durou 16 horas (geralmente, chegam a três dias).
Até fevereiro, haverá ao menos outras nove festas em Sorocaba, Itu e Campinas.
Outra estratégia adotada é a divulgação mais restrita, reservada a grupos de amigos ou amigos dos amigos.

CRÍTICAS
Os produtores criticam as normas. "Fazer regras sem coerência aumenta as festas clandestinas", diz Erick Dias, empresário do grupo No Limits, que já promoveu raves em cidades de cinco Estados.
Um colega de Dias, Yuri Knapp, diz que raves clandestinas já estão ocorrendo.
Segundo ele, há produtores fazendo festas em chácaras e fazendas com autorização apenas para casamentos.
Knapp afirma que uma saída para o setor é fazer festas de dia para não incomodar.
Ricardo Almeida, produtor da Respect, é a favor das regras, mas sem "abuso". "As normas tiram do setor quem não é profissional."
Em Campinas e Sorocaba, a Justiça e Câmara vinculam a concessão alvarás à apresentação de laudo acústico e de bombeiros, à contratação de equipe médica e de seguranças proporcional ao número de frequentadores.
Em Campinas, as restrições podem aumentar, se depender do vereador Petterson Prado (PPS). Ele quer aprovar um projeto que "cria tantas regras que na prática inviabiliza" as raves locais.
Por ora, uma liminar de 2009 da Justiça -pedida pelo Ministério Público- exige o cumprimento das regras.
Em Ubatuba, no litoral norte, a restrição se intensificou após a prefeitura constatar que as festas causavam a morte de filhotes de aves devido ao volume da música.
Segundo o secretário de Turismo de Ubatuba, Luiz Felipe Azevedo, uma pesquisa mostrou que o barulho mata até 40% das espécies.
A cidade tem 90% do território protegido. Por isso a fiscalização é obrigação da prefeitura para preservar as mais de 500 espécies de aves.
Apesar da fiscalização, Azevedo diz que "a tentativa de infração é permanente".
Ele afirma que há grupos alugando ilhas ou fazendo eventos "disfarçados de finalidade social". Outros realizam festas curtas, de até dez horas, usam a internet para divulgação, "chegam e vão embora sem que a prefeitura consiga impedir", afirma.


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