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SÃO PAULO FASHION WEEK
Com truques e ousadia, anônimos invadem área exclusiva
Celebridades e "wannabes" disputam holofotes da moda
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é só na novela das oito que
ser ou estar perto de gente famosa
é uma obsessão.
Para quem persegue os holofotes da São Paulo Fashion Week, o
mais importante evento de moda
do Brasil, que termina hoje, a vaidade é o motor de sacrifícios como forçar a simpatia de estranhos, mendigar convites e se espremer na multidão para assistir a
um vaivém na passarela que não
dura 15 minutos.
Não é a toa. A SPFW movimenta os endereços mais elegantes e
caros da cidade e reúne, em desfiles, jantares e badalações, gente
bonita, importante, rica e famosa.
Atrai, ainda, jornalistas estrangeiros e clientes endinheirados de todo o país para a capital paulista.
A quem não cabe nenhuma das
classificações acima, resta o fardo
de ser um "wannabe". O apelido,
criado no chamado mundinho da
moda, vem do inglês "want to be",
que significa "querer ser". Trata-se do pessoal que queria fazer parte do universo fashion, mas não
está na lista de convidados.
Os "wannabes" precisam usar
truques e mutretas para estar ao
lado do seleto grupo dos fashionistas. Tudo com a ajuda de uma
produção caprichada.
Tititi
Já na entrada principal da
SPFW, uma aglomeração. É preciso convite para entrar na área
onde ficam restaurantes, exposições e estandes e que dá acesso às
salas de desfile -o que nem todos têm. E ali começa a confusão.
"Estamos aqui há duas horas
sem nenhuma perspectiva de
conseguir um convite", lamentava a estudante Vaneska Donato,
23, na porta da SPFW, sentada no
chão ao lado do irmão Rafael e do
amigo Jonas Fongosi, 19.
"Já ouvi de tudo de quem não
tem convite e quer entrar de qualquer jeito. As pessoas querem estar onde acham que algo importante está acontecendo", diz Japa
Girl, 30, uma das hostess.
Passado o primeiro funil, há
uma peneira para cada desfile. No
meio do empurra-empurra, uma
porção de gente diz que é amigo
de fulano, que perdeu o convite
ou que é convidado de sicrano para furar a barreira de seguranças e
de catracas de entrada para os
desfiles. A maioria é desacreditada ou desmentida no ato.
"Ei, você tem convite sobrando?", pergunta à reportagem o estilista mineiro Maurício Isolani,
35, que veio a São Paulo para o
evento. "Com jogo de cintura, cara-de-pau e sorte, consegui assistir a vários desfiles", comemora.
Imagem é tudo
Mas o que afinal leva essas pessoas a fazer de tudo para participar do grande circo da moda?
"Primeiro, a idéia de glamour que
quem não conhece o babado todo
tem. Depois, eles têm ali a única
oportunidade de entrar em contato com tudo aquilo que vêem nas
revistas e na TV", especula a consultora de moda Costanza Pascolato. "Certa vez vi um garoto, que
certamente não era do meio, imitando todo mundo. Arranjou um
par de óculos escuros de camelô,
com o qual ele não enxergava nada, conseguiu entrar nos desfiles e
ainda pegar um lugar na primeira
fileira. Era uma caricatura de todos nós", brinca ela, que tem lugar garantido na primeira fileira
de todos os desfiles da temporada.
E o que garante um lugar na primeira fila, onde todos querem
sentar? "É um lugar de status.
Tem de ser uma celebridade, uma
semi-celebridade ou uma pseudo-celebridade", ironiza Costanza. "Eu mesma tenho meus momentos Mickey Mouse, quando
me param entre os desfiles para tirar fotos comigo", conta.
Carão
No espaço comum às áreas de
desfile, no meio do frenesi de centenas de anônimos, se destaca
quem faz mais pose ou quem veste o modelo mais excêntrico. E a
disputa ali é acirrada.
Mas no quesito escândalo, na
última sexta, ninguém batia o trio
Vaneska, Rafael e Jonas, que conseguiu entrar na SPFW depois de
três horas seguidas de tentativas.
"Consegui entrar onde todo
mundo quer estar. Entrar aqui parece que muda toda a vida da gente", exagera Jonas. "Quem fala
que não liga para os famosos que
estão aqui está mentindo. Você
cruza com eles tantas vezes que
eles viram seus conhecidos, tipo
"olha o fulano ali". Só que eles
nem sabem que a gente existe",
diverte-se Vaneska.
Roteiro
A disputa por um lugar na
SPFW se repete no roteiro de jantares e baladas que toma conta da
cidade durante o evento.
Todas as noites, descolados se
reuniam no restaurante Hotel
Lycra. Curiosos circulavam pelo
Hotel Unique, ávidos para topar
com algumas das celebridades
que ali estão hospedadas. Atores
globais eram paparicados por estilistas na última quinta, no restaurante do Hotel Fasano. E socialites perdiam a finesse para atrair
a atenção da modelo mais badalada da temporada: Elettra Rossellini, 20, filha de Isabella Rossellini e
neta de Ingrid Bergman.
O pedigree da moça -que admite nunca ter visto todos os filmes da avó- a transformou na
celebridade da vez, com a qual as
demais celebridades querem estar, de alguma forma, associadas.
"Quer dizer que as pessoas aqui
sabem quem eu sou? Isso é tão estranho. Não me considero uma
celebridade. E nunca recebi tanta
atenção como aqui no Brasil",
afirma Elettra, denunciando o
provincianismo do mundo fashion. "Será que meus 15 minutos
de fama estão acontecendo aqui e
agora e eu nem me dei conta? Ai,
meu Deus!"
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