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"Falta García Márquez", lamenta ambulante
DA REPORTAGEM LOCAL
O sem-teto Lamartine Brasiliano, 38, vive no prédio 911 da avenida Prestes Maia desde 2002,
quando o imóvel foi invadido. Para sobreviver, vende água e refrigerante em semáforos.
Ontem, passou no subsolo do
prédio para perguntar se havia alguma obra de Gabriel García
Márquez. Além de freqüentar essa biblioteca, Brasiliano mantém
uma. Mas em seu barraco, improvisado no 6º andar do prédio, os
livros são atacados por baratas.
Leitor voraz, o ambulante faz sugestões de livros e autores.
Folha - Como o senhor tomou
gosto pela leitura?
Lamartine Brasiliano - Aprendi a
ler com cordel. Meu tio passava os
dias na feira, em Pernambuco,
contando histórias.
Folha - Que autores recomenda?
Brasiliano - Eu acho que as
crianças e os jovens devem ler os
escritores nacionais primeiro, como Jorge Amado, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.
Folha - Quais os livros preferidos?
Brasiliano - O "Primeiras Estórias", com contos do Guimarães
Rosa. E "Casa-Grande e Senzala",
do Gilberto Freyre, que para mim
é um raio-X do mundo.
Folha - Com que obra se identifica?
Brasiliano - Com o "Seara Vermelha", do Jorge Amado. Eu sou
de Recife, já andei muito pelo sertão. E ele mostra na história pessoas que passaram tanta fome no
caminho para São Paulo que comeram até o gato que traziam.
Folha - E de qual não gostou?
Brasiliano - De "Dona Flor e seus
Dois Maridos", do Jorge Amado.
Tem muita prostituição para o
meu gosto.
Folha - O que falta na biblioteca
do Prestes Maia?
Brasiliano - Na minha opinião,
falta Gabriel García Márquez. O livro "Cem Anos de Solidão", que
fala de uma família na cidade de
Macondo, eu li há muito tempo,
ainda em Pernambuco. E gosto
muito de uma frase do autor. Ele
diz que "a ética deve acompanhar
sempre o jornalismo, como o
zumbido acompanha o besouro".
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