São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006

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"Falta García Márquez", lamenta ambulante

DA REPORTAGEM LOCAL

O sem-teto Lamartine Brasiliano, 38, vive no prédio 911 da avenida Prestes Maia desde 2002, quando o imóvel foi invadido. Para sobreviver, vende água e refrigerante em semáforos.
Ontem, passou no subsolo do prédio para perguntar se havia alguma obra de Gabriel García Márquez. Além de freqüentar essa biblioteca, Brasiliano mantém uma. Mas em seu barraco, improvisado no 6º andar do prédio, os livros são atacados por baratas. Leitor voraz, o ambulante faz sugestões de livros e autores.

 

Folha - Como o senhor tomou gosto pela leitura?
Lamartine Brasiliano -
Aprendi a ler com cordel. Meu tio passava os dias na feira, em Pernambuco, contando histórias.

Folha - Que autores recomenda?
Brasiliano -
Eu acho que as crianças e os jovens devem ler os escritores nacionais primeiro, como Jorge Amado, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa.

Folha - Quais os livros preferidos?
Brasiliano -
O "Primeiras Estórias", com contos do Guimarães Rosa. E "Casa-Grande e Senzala", do Gilberto Freyre, que para mim é um raio-X do mundo.

Folha - Com que obra se identifica?
Brasiliano -
Com o "Seara Vermelha", do Jorge Amado. Eu sou de Recife, já andei muito pelo sertão. E ele mostra na história pessoas que passaram tanta fome no caminho para São Paulo que comeram até o gato que traziam.

Folha - E de qual não gostou?
Brasiliano -
De "Dona Flor e seus Dois Maridos", do Jorge Amado. Tem muita prostituição para o meu gosto.

Folha - O que falta na biblioteca do Prestes Maia?
Brasiliano -
Na minha opinião, falta Gabriel García Márquez. O livro "Cem Anos de Solidão", que fala de uma família na cidade de Macondo, eu li há muito tempo, ainda em Pernambuco. E gosto muito de uma frase do autor. Ele diz que "a ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro".


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