|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Condomínios cortam "diferenciais" de lazer
Atrativos destacados na venda, como piscina aquecida e LAN house, são cortados por causa de alto custo ou subutilização
Imobiliárias "marquetizam" benfeitorias para vender empreendimentos, afirma engenheiro, mas nem todas elas têm uso efetivo
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de alguns meses, o
aquecimento da piscina do Plaza de Cataluña, um prédio de
alto padrão em Moema (zona
sul de São Paulo), passou a esquentar também a cabeça dos
moradores. Eram R$ 7.000 de
conta de gás que, dividida entre
os 42 apartamentos, pesava uns
R$ 166 no bolso de cada um deles. E os vizinhos então passaram a tomar banho frio.
Para cortar custos ou dar utilidade a áreas ociosas, a classe
média tem desativado benfeitorias, num primeiro sinal de
frustração do investimento feito em lazer nos residenciais e
nos condomínios do tipo clube
nos últimos anos.
Quem diz é o engenheiro
Márcio Kawashima, que fez um
estudo sobre áreas de lazer no
núcleo de Real Estate da Escola
Politécnica da USP.
"O que as imobiliárias fazem
é "marquetizar" alguns supostos
diferenciais para vender os empreendimentos. De 30 itens de
lazer, no máximo 15 têm uso
efetivo. Os outros, na prática,
não significam nada", afirma.
E ele dá a explicação: "A área
útil dos imóveis é cada vez menor. Com isso, os moradores
enxergam as áreas de uso comum com uma extensão dos
seus próprios apartamentos".
É um pouco a história do
condomínio Practical Way, na
Vila Leopoldina (zona oeste).
No panfleto de venda, a proposta de uma LAN house, uma dessas salas de computadores com
internet e jogos on-line, saltou
aos olhos das crianças.
Quando foi inaugurado, surgiu a discussão de como montar
e pagar um sistema de segurança que proibisse downloads e
navegação em sites inapropriados, além do custo de manutenção das máquinas.
Febem
Daí o espaço caiu na ociosidade e ficou uns dois anos fechado. Para mais descontentamento da rapaziada, foi proibida a entrada dos jovens na sala
do "home theater". Pela bagunça que faziam, em dois tempos
o lugar ganhou o apelido depreciativo de "Febem".
Foram reuniões daqui, outras acolá, e os condôminos resolveram a questão: a antiga
LAN house virou uma sala de
TV e DVD para crianças e foram instalados ali uns computadores antigos, daqueles 486
do tempo do onça, para dar um
cala-boca e dizer que tem.
"Não colocamos internet
porque dava muito problema.
Hoje o computador funciona só
para jogos, e a sala do "home
theater" é para os adultos", diz o
zelador Francisco Chagas.
No condomínio Ile Ecolife,
uma dessas minicidades com
460 apartamentos, a história se
repete. A sala de lazer infantil,
com mesas de pingue-pongue,
pebolim e futebol de botão, vai
ser incrementada com jogos
eletrônicos. A brinquedoteca,
sem muitas crianças, vai ganhar uma biblioteca. E a pista
de skate, que está parada, vai
continuar assim. "É um espaço
ocioso", conta o gerente dos
prédios, Zacarias Delaportas.
As várias alternativas do Plaza de Cataluña para manter a
piscina quente -como aquecimento solar e trocadores de calor (que é elétrico e funciona
como um ar-condicionado invertido) -não deu certo.
"Com a piscina, a situação
era complexa. O custo do gás é
muito alto. A maioria dos condôminos concordou em desativar o aquecimento da piscina",
diz a síndica Regina Denigres.
"Isso tem acontecido muito.
O aquecimento da piscina encarece, por baixo, o condomínio em uns 20%", completa
Hubert Gebara, vice-presidente de administração imobiliária
e condomínios do Secovi (o sindicato do setor) e dono de uma
empresa que gerencia prédios.
"O pior dos custos é ter a opção de lazer sem utilização.
Qualquer dinheiro que se gaste
será à toa", diz Míriam Silva, diretora de operações da Oxi Brasil, empresa de consultoria em
lazer para condomínios.
Segundo o Sindicond (o sindicato dos condomínios), qualquer mudança nas benfeitorias
deve ser aprovada por ao menos dois terços dos condôminos numa assembleia em todos
os donos estejam presentes. "A
orientação antes de alugar ou
comprar é saber qual o perfil do
prédio", diz José Roberto Graiche, presidente da AABIC (a associação das administradoras).
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Frases Índice
|