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ANA MORALES CRESPO (1919-2009)
Aos 86, a descoberta do computador
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três anos atrás, aos 86,
Ana Morales Crespo ganhou
da família um computador.
Tendo estudado até o terceiro ano primário, encheu 20
páginas com suas memórias.
"Eu e meus pais não sabíamos avaliar a necessidade do
estudo. Na época, as mulheres não tinham que estudar,
pois se dizia que isso só serviria para escrever cartas para
o namorado!", anotou.
Descendente de espanhóis
que se mudaram para Ourinhos (SP), Ana registrou com
estilo desde a infância até o
contato com a informática.
"Para terminar minhas
memórias, estou aprendendo a mexer no computador.
(...) Já aprendi a jogar paciência. Vou continuar para
ver se aprendo mais um pouco. Não acredito que aprenda
muito mais, mas o que
aprender é lucro, assim como tudo nesta idade."
Recordava-se da Revolução de 30: "Pai ia à estação do
trem ver a volta dos soldados
alegres, gritando e jogando
pentes de bala de metralhadora ao povo. Ele levou um
para vermos." Em 1939, casada, veio à capital, onde as
ruas eram "iluminadas por
lampiões de gás". Dedicada a
família, conta a filha, teve
cinco crianças -sendo um
casal de gêmeos portadores
de deficiência física-, nove
netos e quatro bisnetos.
Ana escreveu sobre saudades, medos e mudanças. O
câncer de pâncreas descoberto há dois anos ficou de
fora das memórias. Morreu
domingo passado, aos 89, em
consequência da doença.
obituario@grupofolha.com.br
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