São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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ANA MORALES CRESPO (1919-2009)

Aos 86, a descoberta do computador

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Três anos atrás, aos 86, Ana Morales Crespo ganhou da família um computador.
Tendo estudado até o terceiro ano primário, encheu 20 páginas com suas memórias.
"Eu e meus pais não sabíamos avaliar a necessidade do estudo. Na época, as mulheres não tinham que estudar, pois se dizia que isso só serviria para escrever cartas para o namorado!", anotou.
Descendente de espanhóis que se mudaram para Ourinhos (SP), Ana registrou com estilo desde a infância até o contato com a informática.
"Para terminar minhas memórias, estou aprendendo a mexer no computador.
(...) Já aprendi a jogar paciência. Vou continuar para ver se aprendo mais um pouco. Não acredito que aprenda muito mais, mas o que aprender é lucro, assim como tudo nesta idade."
Recordava-se da Revolução de 30: "Pai ia à estação do trem ver a volta dos soldados alegres, gritando e jogando pentes de bala de metralhadora ao povo. Ele levou um para vermos." Em 1939, casada, veio à capital, onde as ruas eram "iluminadas por lampiões de gás". Dedicada a família, conta a filha, teve cinco crianças -sendo um casal de gêmeos portadores de deficiência física-, nove netos e quatro bisnetos.
Ana escreveu sobre saudades, medos e mudanças. O câncer de pâncreas descoberto há dois anos ficou de fora das memórias. Morreu domingo passado, aos 89, em consequência da doença.

obituario@grupofolha.com.br


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