São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2006

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CARNAVAL 2006

Após críticas à violência e à separação de foliões, cantor se ajoelha em frente ao camarote do ministro da Cultura, que se diz sensibilizado

Carlinhos Brown pede desculpas, e Gil chora

AFRA BALAZINA
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Depois de chamar a atenção de Gilberto Gil para a questão da violência durante o Carnaval de Salvador e pedir o fim das cordas que separam os foliões pagantes da multidão, Carlinhos Brown pediu ontem desculpas ao ministro da Cultura, em frente ao camarote Expresso 2222, no Farol da Barra.
"Te amo, Gil, muito obrigado, desculpe qualquer coisa. Muito obrigado seu [ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando] Furlan. Eu queria passar aqui sabe por quê? Porque nenhum homem é dono da verdade (...). Então eu quero pedir perdão, também. Eu te amo, rapaz, também somos irmãos", afirmou o cantor, durante a madrugada.
Na seqüência, Brown desceu do trio e começou a cantar no chão os versos "Ó meu pai, misericórdia. Pequei, senhor, misericórdia". Ajoelhou-se em frente à varanda onde Gilberto Gil estava. O ministro não respondeu, mas demonstrou estar muito emocionado e, logo depois, chorou.
Brown interpretou a música em ritmo lento e, ainda, usou expressões de terreiros de candomblé.
Ontem, Gil disse que ficou sensibilizado com a homenagem feita pelo cantor e ressaltou que todas as propostas para melhorar o Carnaval de Salvador merecem ser analisadas. "O que nós queremos é aperfeiçoar ainda mais esta festa de explosão coletiva."
As críticas públicas feitas por Brown não alteraram a rotina de Gil durante a folia. Desde o início da festa, na última quinta-feira, o ministro da Cultura é a personalidade mais homenageada pelos cantores que se apresentam no circuito Barra-Ondina.
Invariavelmente, todos os músicos que passam em cima dos trios param em frente ao camarote e elogiam o compositor baiano. Gil também foi o responsável por trazer à Bahia a maior atração do Carnaval neste ano, o vocalista Bono, da banda irlandesa U2.
Para Brown, o Carnaval da capital baiana precisa ser mais democrático e as autoridades devem educar o povo "o ano inteiro, e não só sete dias por ano".
Gilberto Gil reagiu às críticas dizendo que o apartheid social acontece em todas as partes.
Até agora, foram registradas cinco mortes no circuito do Carnaval de Salvador -as duas últimas notificadas ontem.


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