São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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"Repatriados" observam São Paulo sob novos pontos de vista

Depois de morar na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e na África, paulistanos falam sobre a readaptação na volta à metrópole com críticas e elogios

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

Em São Paulo, as pessoas se olham nas ruas. É uma gente calorosa comparada aos japoneses, embora não tão gentil quanto os americanos de Nevada. O metrô atende a poucas regiões, mas é bem-cuidado. As raízes das árvores arrebentam calçadas cheias de desníveis.
Esse punhado de impressões sobre a maior cidade da América do Sul foi extraído de entrevistas com pessoas que deixaram a cidade e, depois de viverem experiências diversas em terras distantes, voltaram com o olhar modificado.
São relatos pessoais e subjetivos. Mas, nesse retrato da metrópole, também há avaliações objetivas sobre infraestrutura.
As cinco histórias, reunidas nesta reportagem, revelam uma cidade que se modifica, sempre pronta a reintegrar quem, um dia, partiu, com ou sem data para voltar.

São Paulo/Amsterdã
Dezessete anos em Amsterdã foram mais do que suficientes para sentir falta do humor paulista. "Quando saio com meus filhos aqui, tem gente que diz: "Que criança linda'", conta Brazilia Botelho, 43, que retornou da capital holandesa em 2006. "Lá, cachorro faz mais sucesso!", completa Jorge, o marido.
A aventura da família Botelho Filio começou em 1990. Ela era uma bailarina de 25 anos, e ele, um bailarino de 27. Os dois brindaram a passagem de 1989 para 1990 em Madri, preparados para um futuro incerto. Dois meses depois, "perderam" o voo para o Brasil. Decidiram morar em Amsterdã.
Retornaram em 2006, com dois filhos nascidos em Amsterdã: Ivan, 9, e Maíra, 4. Queriam que fossem educados em São Paulo, junto à família.
Antes de comprar um carro, Brazilia levava e buscava seus filhos na escola de ônibus. Por isso, diz que o projeto do Bilhete Único é uma das grandes mudanças na infraestrutura da cidade. Jorge sentiu mudanças nos ares da capital. "Achava que São Paulo cheirava mal. Mas, quando voltei, não senti mais cheiro nenhum."
A atriz Gabriella Argento viveu por três anos em Las Vegas trabalhando como palhaça do Cirque du Soleil. Ela "achava forçada" a gentileza do povo americano. Ao voltar, em janeiro de 2008, a São Paulo, onde tudo "é de verdade", se surpreendeu com as tempestades.
Quando o técnico em informática Newton Braune Neto, 46, com sua mulher, Letícia Borges, 44, retornou a São Paulo, depois de três anos divididos entre Egito e Inglaterra, teve de se curvar à grandeza da metrópole. "Vi a ponte estaiada [Octavio Frias de Oliveira], daquele tamanho, e pensei: "Estou voltando pra cidade que não para'", conta, surpreso também com outras construções, como o shopping Cidade Jardim.
Não foi preciso nem um mês para que Lubna Habdallah, 23, comerciante que passou quatro anos no Oriente Médio, percebesse: "Em São Paulo, as pessoas comemoram tudo. Se batem a meta de vendas, se passam em concurso. É típico, mas só reparei depois que voltei".
São Paulo não estava mais nos planos de Ieda Onaga, 26, e de seu marido, Kleber Yuske, 27. Mas, no fim de 2008, a crise econômica mundial tratou de colocar a capital paulista de volta na vida dos dois decasséguis. Sobre o estilo de vida, ainda estão se adaptando. Para Ieda, os paulistanos são solícitos e gentis, em comparação com os japoneses.


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