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"Repatriados" observam São Paulo sob novos pontos de vista
Depois de morar na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e na África, paulistanos falam sobre a readaptação na volta à metrópole com críticas e elogios
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
Em São Paulo, as pessoas se
olham nas ruas. É uma gente
calorosa comparada aos japoneses, embora não tão gentil
quanto os americanos de Nevada. O metrô atende a poucas regiões, mas é bem-cuidado. As
raízes das árvores arrebentam
calçadas cheias de desníveis.
Esse punhado de impressões
sobre a maior cidade da América do Sul foi extraído de entrevistas com pessoas que deixaram a cidade e, depois de viverem experiências diversas em
terras distantes, voltaram com
o olhar modificado.
São relatos pessoais e subjetivos. Mas, nesse retrato da metrópole, também há avaliações
objetivas sobre infraestrutura.
As cinco histórias, reunidas
nesta reportagem, revelam
uma cidade que se modifica,
sempre pronta a reintegrar
quem, um dia, partiu, com ou
sem data para voltar.
São Paulo/Amsterdã
Dezessete anos em Amsterdã
foram mais do que suficientes
para sentir falta do humor paulista. "Quando saio com meus
filhos aqui, tem gente que diz:
"Que criança linda'", conta Brazilia Botelho, 43, que retornou
da capital holandesa em 2006.
"Lá, cachorro faz mais sucesso!", completa Jorge, o marido.
A aventura da família Botelho Filio começou em 1990. Ela
era uma bailarina de 25 anos, e
ele, um bailarino de 27. Os dois
brindaram a passagem de 1989
para 1990 em Madri, preparados para um futuro incerto.
Dois meses depois, "perderam"
o voo para o Brasil. Decidiram
morar em Amsterdã.
Retornaram em 2006, com
dois filhos nascidos em Amsterdã: Ivan, 9, e Maíra, 4. Queriam que fossem educados em
São Paulo, junto à família.
Antes de comprar um carro,
Brazilia levava e buscava seus
filhos na escola de ônibus. Por
isso, diz que o projeto do Bilhete Único é uma das grandes
mudanças na infraestrutura da
cidade. Jorge sentiu mudanças
nos ares da capital. "Achava que
São Paulo cheirava mal. Mas,
quando voltei, não senti mais
cheiro nenhum."
A atriz Gabriella Argento viveu por três anos em Las Vegas
trabalhando como palhaça do
Cirque du Soleil. Ela "achava
forçada" a gentileza do povo
americano. Ao voltar, em janeiro de 2008, a São Paulo, onde
tudo "é de verdade", se surpreendeu com as tempestades.
Quando o técnico em informática Newton Braune Neto,
46, com sua mulher, Letícia
Borges, 44, retornou a São Paulo, depois de três anos divididos
entre Egito e Inglaterra, teve de
se curvar à grandeza da metrópole. "Vi a ponte estaiada [Octavio Frias de Oliveira], daquele tamanho, e pensei: "Estou
voltando pra cidade que não
para'", conta, surpreso também
com outras construções, como
o shopping Cidade Jardim.
Não foi preciso nem um mês
para que Lubna Habdallah, 23,
comerciante que passou quatro
anos no Oriente Médio, percebesse: "Em São Paulo, as pessoas comemoram tudo. Se batem a meta de vendas, se passam em concurso. É típico, mas
só reparei depois que voltei".
São Paulo não estava mais
nos planos de Ieda Onaga, 26, e
de seu marido, Kleber Yuske,
27. Mas, no fim de 2008, a crise
econômica mundial tratou de
colocar a capital paulista de
volta na vida dos dois decasséguis. Sobre o estilo de vida, ainda estão se adaptando. Para Ieda, os paulistanos são solícitos
e gentis, em comparação com
os japoneses.
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