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Crise eleva para 14 mil o número de moradores de rua em SP
Egressos de sistemas penitenciários, fechamento de albergues e ações de despejo estão entre as outras razões que explicam o fenômeno, diz entidade
JOANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
A população de moradores
de rua na cidade de São Paulo
não para de crescer. A estimativa da prefeitura é que o número
de desabrigados esteja em torno de 14 mil -o aumento é de
mais de 9%, em média, todos os
anos. Para 2009, a tendência é
um salto maior.
Em 2005 eram 10,7 mil pessoas nas ruas da cidade, segundo a Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento
Social. O número é aproximado, com base nos desabrigados
que frequentam albergues municipais. Para as entidades sociais, hoje deve estar em 15 mil.
Francisca de Lima, 40, dorme há três semanas no albergue do viaduto Pedroso. Há cinco meses perdeu o emprego onde morava e trabalhava como
arrumadeira e foi para uma
pensão, pagando R$ 230 por
mês. O dinheiro acabou e Francisca pediu vaga no albergue
que recebe homens e mulheres
sob o viaduto que passa por cima da avenida 23 de Maio.
Tímida, Francisca fala pouco,
só para concordar com a colega
veterana Rita Carini, que vive
na rua há dois anos e descreve
cenas violentas que já assistiu
no abrigo. "Já teve até assassinato em albergue", diz Rita.
Durante o dia, assim como
Rita e Francisca, muitos moradores circulam pelo centro, onde frequentam postos de saúde,
às vezes entregam panfletos
para ganhar R$ 15 por dia e procuram emprego, missão difícil
para quem não tem nem endereço fixo. "Tem preconceito.
Ninguém confia porque é de
rua", diz Francisca.
Para Anderson Miranda, ex-morador de rua e coordenador
do Movimento Nacional da População de Rua, o centro é onde
eles querem ficar pois há trabalho. A crise econômica será um
agravante. "Com a crise, muita
gente já veio nos procurar porque perdeu o trabalho temporário -e o informal também será impactado neste ano", diz
Ricardo Mattos, do Centro de
Acolhida Frei Galvão.
Crise econômica, aumento
dos egressos de penitenciárias,
ações de despejo e fechamento
de albergues são as razões para
o crescimento desta população,
segundo Alderon da Costa, da
Associação Rede Rua.
Os números comprovam a
tese: deixaram as prisões paulistas 86 mil pessoas em 2008,
diz a Secretaria da Administração Penitenciária -em 2003,
foram 42 mil. Quanto aos despejos, a prefeitura desocupou
neste mês o edifício Mercúrio,
no centro. Lá viviam 25 famílias de modo irregular. Também geminado, o São Vito havia
sido esvaziado em 2004.
Ao mesmo tempo, a prefeitura tem fechado albergues em
viadutos. O São Francisco, no
Glicério, será o penúltimo a ser
fechado -não haverá substituto. O Jacareí havia sido desativado em 2008. Só restou o Pedroso. "Albergue de viaduto é
insalubre, não ventila e tem barulho dos carros. Já teve epidemia de tuberculose", diz . A prefeitura não informa se vai haver
novos espaços.
Casos de violência entre desabrigados são comuns e agravados pelo alcoolismo, recorrente nessa população. Brigas
com donos de comércios em
cujas fachadas os desabrigados
se acomodam são frequentes.
"Eles migram muito em busca de água e comida. Mudam
quando têm problemas de violência com comerciantes ou
entre eles mesmos", diz Costa.
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