São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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Crise eleva para 14 mil o número de moradores de rua em SP

Egressos de sistemas penitenciários, fechamento de albergues e ações de despejo estão entre as outras razões que explicam o fenômeno, diz entidade

JOANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

A população de moradores de rua na cidade de São Paulo não para de crescer. A estimativa da prefeitura é que o número de desabrigados esteja em torno de 14 mil -o aumento é de mais de 9%, em média, todos os anos. Para 2009, a tendência é um salto maior.
Em 2005 eram 10,7 mil pessoas nas ruas da cidade, segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. O número é aproximado, com base nos desabrigados que frequentam albergues municipais. Para as entidades sociais, hoje deve estar em 15 mil.
Francisca de Lima, 40, dorme há três semanas no albergue do viaduto Pedroso. Há cinco meses perdeu o emprego onde morava e trabalhava como arrumadeira e foi para uma pensão, pagando R$ 230 por mês. O dinheiro acabou e Francisca pediu vaga no albergue que recebe homens e mulheres sob o viaduto que passa por cima da avenida 23 de Maio.
Tímida, Francisca fala pouco, só para concordar com a colega veterana Rita Carini, que vive na rua há dois anos e descreve cenas violentas que já assistiu no abrigo. "Já teve até assassinato em albergue", diz Rita.
Durante o dia, assim como Rita e Francisca, muitos moradores circulam pelo centro, onde frequentam postos de saúde, às vezes entregam panfletos para ganhar R$ 15 por dia e procuram emprego, missão difícil para quem não tem nem endereço fixo. "Tem preconceito. Ninguém confia porque é de rua", diz Francisca.
Para Anderson Miranda, ex-morador de rua e coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, o centro é onde eles querem ficar pois há trabalho. A crise econômica será um agravante. "Com a crise, muita gente já veio nos procurar porque perdeu o trabalho temporário -e o informal também será impactado neste ano", diz Ricardo Mattos, do Centro de Acolhida Frei Galvão.
Crise econômica, aumento dos egressos de penitenciárias, ações de despejo e fechamento de albergues são as razões para o crescimento desta população, segundo Alderon da Costa, da Associação Rede Rua.
Os números comprovam a tese: deixaram as prisões paulistas 86 mil pessoas em 2008, diz a Secretaria da Administração Penitenciária -em 2003, foram 42 mil. Quanto aos despejos, a prefeitura desocupou neste mês o edifício Mercúrio, no centro. Lá viviam 25 famílias de modo irregular. Também geminado, o São Vito havia sido esvaziado em 2004.
Ao mesmo tempo, a prefeitura tem fechado albergues em viadutos. O São Francisco, no Glicério, será o penúltimo a ser fechado -não haverá substituto. O Jacareí havia sido desativado em 2008. Só restou o Pedroso. "Albergue de viaduto é insalubre, não ventila e tem barulho dos carros. Já teve epidemia de tuberculose", diz . A prefeitura não informa se vai haver novos espaços.
Casos de violência entre desabrigados são comuns e agravados pelo alcoolismo, recorrente nessa população. Brigas com donos de comércios em cujas fachadas os desabrigados se acomodam são frequentes.
"Eles migram muito em busca de água e comida. Mudam quando têm problemas de violência com comerciantes ou entre eles mesmos", diz Costa.


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