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BARBARA GANCIA
Severinos abundam no país
Sabe o filme "Homens de
Negro"? Lembra de como o
personagem de Will Smith se dava conta de que o mundo era populado por aliens que andavam
por aí travestidos de humanos e,
às vezes, até disfarçados de cachorros da raça pug?
Pois estou começando a achar
que o Brasil virou um imenso
"Men in Black": há Severinos por
toda parte. E eles são cada dia
mais loquazes. Em determinada
semana, o nobre leitor poderá detectar um Severino no vereador
de quimono. Na semana seguinte,
o Severino irá se manifestar em
um deputado baiano que toma a
tribuna da Assembléia Legislativa da Bahia para revelar ao mundo seu assombro diante do primeiro exame de próstata a que foi
submetido.
A característica mais marcante
de um Severino que se preze é a
indiferença nascida das trevas do
desconhecimento. Nesse aspecto,
o Severino da vez conseguiu superar seu biótipo pernambucano.
O deputado estadual do PT,
Manoel Isidório de Santana, 43,
também conhecido como Sargento Isidório, usou 25 minutos do
tempo da assembléia baiana para
fazer uma reflexão, digamos, profunda sobre as agruras do exame
de próstata justamente no dia em
que Salvador completou 456 anos
e que fortes chuvas provocaram a
morte de duas pessoas na cidade.
Dizendo sentir-se "deflorado" e
alegando que o exame de próstata é "desmoralizante para um pai
de família", o Severino Sargento
Isidório esbravejou que "o médico
chegou e já foi colocando o dedo".
E que, depois do exame, o doutor
abriu a porta e chamou o próximo paciente "como se nada tivesse acontecido".
Puxa, mas quanta insensibilidade! Que médico é esse que parte
para outra sem nem ao menos
trocar uma carícia ou fumar um
cigarrinho para relaxar?
O exame de toque retal é simples e de grande eficiência na detecção de um câncer que costuma
vitimar homens como Isidório,
que chegam a fugir do exame com
medo dos fantasmas que habitam
o inconsciente.
Agora só falta algum jornalista
inspirado interpretar o fato às
avessas e dizer que o deputado
baiano despertou interesse para o
exame de próstata.
Ué, já não disseram que Severino Cavalcanti presta um serviço
ao país por revelar a verdadeira
cara do Congresso Nacional?
A abordagem mais lúcida sobre o caso Terri Schiavo partiu de
um colunista do jornal nova-iorquino "The Village Voice", Nat
Hentoff: "Nos EUA, nem mesmo
assassinos em série são executados da maneira como Terri Schiavo foi".
QUALQUER NOTA
Final feliz
O vereador Aurélio Miguel retirou projeto de sua autoria liberando rodeios em Sampa. Em
e-mail, ele me diz que foi "motivado a reavaliar" o caso em
conversas com especialistas.
Menos mal. Mas, no futuro, que
tal colher informações antes e
não depois de apresentar seus
projetos?
Mercedes Sosa
Vem cá: a personagem principal de "América" se chama Sol,
como as heroínas dos dramalhões da terra do Chaves habitante da lata de lixo? Não é forçar a barra em um país como o
nosso, onde carga dramática é
o que não falta?
@ - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/
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