São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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CIDADE EM MOVIMENTO

Construção de nova linha já levou à desapropriação de estabelecimentos no cruzamento com a Rebouças

Obra do metrô varre esquina da Oscar Freire

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um boteco, um estacionamento, uma editora, um escritório, uma rotisseria... Em pouco mais de um mês, todos esses locais, que ocupavam a altura do nš 1.200 da rua Oscar Freire (zona oeste), desapareceram da paisagem.
Seis endereços da rua mais notória e badalada dos Jardins estavam no caminho da linha 4-amarela do metrô de São Paulo e foram desapropriados e demolidos para dar lugar à obra de instalação do túnel subterrâneo de 12,8 km de extensão -que ligará a Vila Sônia (zona oeste) à Luz (centro).
Para que toda a linha seja construída, o governo do Estado precisará desapropriar quase 200 imóveis, que consumirão aproximadamente R$ 130 milhões de R$ 3,1 bilhões orçados para todo o empreendimento.
Na rua Oscar Freire -onde um ponto comercial pode custar mais de R$ 250 mil-, quatro dos sobrados que ocupavam as proximidades da esquina com a avenida Rebouças ainda estão de pé: dois deles serão demolidos, dois ficarão onde estão. Entre os que não resistirão está a casa, reformada e decorada em detalhes, da loja Vera Arruda, que se mantém em funcionamento.
"Investimos neste ponto. Mudar daqui vai ser duro", avalia o viúvo da estilista que dá nome à grife, João Luiz. "O mais surpreendente é que não recebi, até hoje, nenhum comunicado do metrô sobre prazo para desapropriação. Sou a favor do metrô, mas tenho o direito de programar minha mudança", diz ele, que protocolou ontem requerimento desse prazo na estatal paulista.
Vendedora e gerente da loja não escondem sua antipatia à obra do Estado que as arrancará do endereço atual. "É uma sensação terrível. Se tiver de usar a linha nova, prefiro andar mais a ter de descer na estação Oscar Freire", desabafa a gerente Mônica Colatrello, 32.
No último sobrado que ficará de pé está a editora Iluminuras. "Como as casas eram geminadas e a fundação da estação será muito profunda, tenho receio de que tudo venha abaixo", diz o editor Samuel Leon. "O metrô será bom para o bairro, mas, com as demolições, apareceram muitos ratos nesse pedaço. E, seguramente, vamos enlouquecer com as obras."
Do outro lado da rua, a vendedora Shirley Azeredo, 35, tem assistido, pela vitrine, ao passo a passo das demolições. "Não é uma sensação nada agradável. Quando estiver tudo pronto, será ótimo, mas duvido que nossas clientes passem a usar o metrô."
Pedestres, comerciantes, moradores, cada um relata uma sensação diferente ao ver um espaço familiar se transformar de repente: tristeza, isolamento, esperança. "Para mim, a sensação é de caos. A cidade cresce aos trancos e ao sabor e conveniência das administrações públicas. Essa obra surpreende na pior acepção da palavra", afirma o juiz Teodomiro Mendes, vizinho da obra.
A doméstica Eliana de Pádua se sentiu aliviada. "Tinha um bar horrível ali. Para mim, essa obra foi um favor."
"Acho triste essa mudança. A Oscar Freire não é uma rua para ter metrô", diz a comerciante Luciana Liz, 29. "Não é por isso que a elite vai aderir ao metrô. Por aqui, metrô é coisa de pobre."


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