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MILITARES
Com decisão, controle aéreo será duplicado
Novo órgão, que ficará vinculado diretamente a ministério, será criado; militares cuidarão apenas da defesa do espaço aéreo
Detalhes sobre a medida ficarão para ser resolvidos amanhã; ainda não há previsão de custos da duplicação do sistema
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do motim de sexta-feira e do acordo favorável aos
controladores de vôo feito por
ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Aeronáutica
anunciou ontem em nota oficial que abre mão do controle
de tráfego aéreo civil.
A desmilitarização significa a
duplicação do sistema: um para
a defesa do espaço aéreo e outro para as aeronaves civis. Não
há previsão de custos.
Na nota, a FAB anuncia a
criação de um órgão específico
para cuidar do controle do tráfego civil, vinculado diretamente ao Ministério da Defesa.
Os controladores, que hoje são
majoritariamente militares,
passarão à subordinação desse
novo órgão.
Conforme a Folha apurou, a
expectativa da Aeronáutica é
que os quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle
de Tráfego Aéreo (Cindacta) e
seus radares continuarão sendo comandados por brigadeiros, mas os controladores de
vôo -foco da crise- passam a
ser todos civis.
Diante das inevitáveis dúvidas sobre o sistema híbrido,
oficiais respondiam ontem que
haverá reunião de governo
amanhã para especificar esses
"detalhes". O formato final deverá ser divulgado na terça.
As mudanças dependerão de
Medida Provisória a ser enviada ao Congresso e que está sendo elaboração no Ministério do
Planejamento, sob a coordenação do secretário executivo adjunto da Pasta, Afonso Oiveira
de Almeida.
Irritação
O dia foi de muita tensão e irritação na Aeronáutica, onde o
comandante Juniti Saito se
reuniu desde a manhã com o
Alto Comando da Força, integrado pelos brigadeiros de quatro estrelas (maior patente).
Saito chegou a ameaçar entregar o cargo e afastar os militares que chefiam posições no
controle aéreo.
Na avaliação de altas patentes, Lula e o ministro Waldir Pires (Defesa) não só desmoralizaram o Comando da Aeronáutica como feriram os princípios
básicos da hierarquia militar,
ao tratar uma sublevação, ou
motim, como questão sindical e
anunciar a desmilitarização do
controle aéreo sem um acerto
formal com as próprias Forças
Armadas.
Saito chegou a se dirigir ao
aeroporto de Brasília na sexta-feira para dar voz de prisão aos
líderes do movimento, mas recebeu um telefonema, em nome do presidente Lula, para
abortar a missão. E foi excluído
das negociações.
Ontem, houve vários contatos da área civil do governo com
a Aeronáutica, no sentido de
apaziguar os ânimos, e os brigadeiros demoraram horas para
chegar a um tom que consideram de meio termo na nota. Ela
estava para sair por volta das
14h30, mas só foi divulgada somente perto das 18h.
"O Comando da Aeronáutica
compreende a posição assumida pelo governo [o acordo com
os controladores, na maioria
sargentos], em face da sensibilidade do assunto parar os interesses do país", diz a nota.
No último dos quatro parágrafos, a nota admite a "gravidade da atitude adotada pelos
controladores" e "destaca a importância dos princípios basilares da hierarquia e da disciplina
e reafirma a coesão da Força
Aérea sob autoridade de seu comandante".
A Folha apurou que o coronel Vuyk de Aquino, chefe do
Cindacta-1, foco da insurgência, sairá do cargo. Ele tentou
abrir diálogo com os líderes,
mas foi repelido. Não há oficial
que se disponha a assumir o
posto, porque tentar restabelecer a ordem entre os sargentos
é uma impossibilidade prática.
Os próprios controladores de
tráfego aéreo se recusam a
aceitar a presença ou as ordens
de qualquer oficial.
O brigadeiro Ramón Borges
Cardoso, chefe do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), também pedirá
transferência para a reserva.
Ele assumiu o cargo porque seu
antecessor, brigadeiro Paulo
Roberto Vilarinho, foi exonerado justamente por causa da crise que vem desde outubro.
Para os oficiais, os controladores estão, na prática, gerindo
suas próprias atividades, pretendem reajustar os horários
das escalas de trabalho e estão
administrando sozinhos a retomada dos vôos e o controle de
fluxo das decolagens nos aeroportos. Ou seja: estão com o
controle da situação.
Na reunião de ontem do Alto
Comando, os brigadeiros estudavam meios legais para reintroduzir a possibilidade da prisão dos controladores, agora
não mais via governo, mas via
Ministério Público. Basta que
um cidadão atingido pelo caos
alegue crime contra a Nação.
Um dado do nível de tensão:
Saito comentou com os brigadeiros, na reunião, que temia
estar sendo "grampeado" por
outras esferas de governo.
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