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SAÚDE/ GASTROENTEROLOGIA
Novo exame diagnostica a intolerância à lactose
Problema com enzima lactase afeta 70% da população ocidental após os 40 anos
Técnica é mais rápida e dispensa a ingestão de lactose, poupando paciente de sintomas como diarréia, dor abdominal e flatulência
CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL
O Hospital das Clínicas de
São Paulo está realizando um
novo exame que facilita a vida
de quem tem intolerância à lactose. Os métodos de diagnóstico que existem hoje, além de
demorarem horas, são desagradáveis para os pacientes.
A intolerância à lactose é
muito comum: chega a atingir
70% da população ocidental
após os 40 anos. O problema
ocorre porque o intestino delgado não produz -ou produz
menos- a enzima lactase, que
existe para quebrar o açúcar do
leite (lactose).
Os sintomas são diarréia, inchaço, dor abdominal e flatulência. Não vale confundir o
problema com a alergia à lactose, que é uma reação imunológica. "É muito comum não associar os sintomas com a lactose. As pessoas acham que comeram demais ou que a comida
estava ruim", diz Fabrício de
Almeida Dominguez, gastroenterologista da Unifesp.
O tratamento é a mudança na
dieta. Cada paciente tem um limite de tolerância que tanto
pode ser de dois copos de leite
por dia quanto não suportar
nenhum alimento derivado do
leite ou que use o ingrediente
em sua preparação. Até requeijão, sorvetes, bolo e biscoito podem ter que ser proibidos.
Descobrindo esse limite, o
jeito é se adaptar a ele. Existem
no mercado vários produtos especiais para essas pessoas. De
leite com baixo teor de lactose a
ovos de chocolate com ingredientes 100% vegetais. Cápsulas com a enzima lactase também podem ser importadas e
tomadas nas refeições que incluam leite.
"Hoje é muito fácil conviver
com a intolerância. Tem vários
produtos que facilitam a vida.
Isso também não quer dizer
que não se pode ingerir nada
com lactose. O paciente tem
que ver o que tolera", afirma o
gastro Flávio Steinwurz, do
hospital Albert Einstein.
Um aspecto fundamental é
que quem tem o problema precisa repor cálcio. Primeiro porque as freqüentes diarréias impedem que o organismo absorva os nutrientes. Segundo para
compensar a dieta. Essa reposição pode ser feita por suplementos ou com uma alimentação rica em folhas verdes, como
couve, rúcula e espinafre.
Exames
O exame de biologia molecular que está sendo feito no HC
já avaliou 140 pessoas desde o
ano passado. Pode ser feito por
qualquer paciente do SUS, uma
vez que ainda não está disponível em laboratórios privados.
O paciente retira um pouco
de sangue. Seu DNA é estudado
para ver se há mutação em relação à produção da enzima. Em
cinco dias sai o resultado.
Dois exames eram responsáveis pelo diagnóstico. O mais
antigo avaliava a glicemia no
sangue -se a lactose é quebrada normalmente vira glicose. O
outro mede a quantidade de hidrogênio no pulmão -quando
a lactose vai para o intestino
grosso fermenta e hidrogênio é
liberado por bactérias.
Ambos são demorados, exigem jejum e são feitos após a
ingestão de uma solução de lactose, causando mal-estar a
quem tem a intolerância.
"O exame genético é mais rápido e dispensa jejum. O paciente também não passa pelo
desafio de tomar lactose e ter os
sintomas", diz Rejane Mattar,
responsável pelo laboratório da
gastroenterologia do HC.
Mutação
Tomar leite parece algo inerente à humanidade. Mas segundo médicos, só as crianças
estão verdadeiramente preparadas. Rejane diz que quem tolera leite na idade adulta sofreu
uma mutação genética.
Ou seja, o "normal" seria que
todas as pessoas fossem intolerantes ao leite após a infância.
"Os mamíferos foram feitos para tomar leite só quando são filhotes. A humanidade sofreu
uma mutação", explica.
"O ser humano nasce para ingerir leite até os dois anos de vida", ressalta Fabrício de Almeida. A partir dessa idade, a produção da enzima começa a cair.
Existem três tipos de intolerância à lactose. A mais comum
acontece depois de uma certa
idade, quando a pessoa passa a
não suportar a lactose.
A mais rara e grave é a congênita, quando o bebê nasce sem
tolerar nem o leite materno. A
temporária ocorre após infecções intestinais e costuma durar até duas semanas.
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