São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Cheiro do ralo
O ECONOMISTA NAÉRCIO Menezes, professor da USP e do
Ibmec, descobriu que o uso
do computador nas escolas públicas
não modifica o desempenho dos
alunos. Para ser mais preciso, aqueles com acesso à informática têm
nota 0,03 mais alta - ou seja, nada. Na área econômica, as avaliações são rotina. Somos informados todos os dias sobre os níveis de emprego, de inflação, das exportações, das importações, e assim vai. É possível detectar rapidamente um erro de política econômica. Não é o que ocorre na área social. Peguemos os CEUs, tão badalados (e caros), lançados na gestão do PT na Prefeitura de São Paulo e ampliados na atual administração. Os equipamentos são maravilhosos e melhoraram a paisagem da prefeitura, vendidos como uma revolução educacional? Nenhum CEU aparece na lista das 50 melhores escolas municipais, avaliadas pelas notas de português e de matemática; algumas dessas escolas estão localizadas em bairros miseráveis. Pode-se dizer (com alguma razão) que os CEUs ainda não tiveram tempo de mostrar resultados. Mas também não se pode comemorar. O estudo do professor Naércio Menezes traz a inevitável pergunta sobre se aquela mesma verba não produziria notas melhores caso fosse aplicada na ampliação e melhoria da rede de pré-escolas - afinal, os alunos que cursaram a pré-escola, segundo a pesquisa, demonstram melhor desempenho. Tais números diminuem o "chutômetro" de políticas sociais e deveriam servir para inibir a fúria de inaugurações para fixar a imagem dos governantes. Quando Lula lançou o "Fome Zero", técnicos advertiram que o programa estava sem foco, baseado em dados errados. Pouco tempo depois, saiu uma pesquisa do IBGE indicando que o problema da obesidade é muito mais presente que o da desnutrição. O plano contra a fome, colocado como a prioridade das prioridades, acabou arquivado, jogando dinheiro no ralo. Já o Bolsa Família mostra que, com pouco dinheiro, pode-se diminuir muito mais eficazmente a pobreza e distribuir a renda do que o aumento do salário mínimo. Essas comparações é que, cada vez mais, vão sustentar programas de longo prazo. O governador Sérgio Cabral Filho viu na Colômbia como a gestão integrada de diferentes níveis de governos e departamentos, focada na comunidade, se traduz em redução de gastos e aumento da eficiência. O que explica, em boa parte, como Bogotá e Medellín reduziram tão rapidamente seus níveis de violência. São evidências que influenciaram a decisão do governador de aplicar esse mesmo tipo de integração em zonas de conflitos no Rio, evitando a pulverização administrativa. Vamos agora a um exemplo de desperdício anunciado. A sofisticação dos métodos para avaliar a relação custo-benefício está radicalmente na contramão de uma decisão de Lula de criar uma televisão pública ao custo de R$ 250 milhões. Nem precisaria nenhum cálculo refinado para perguntar se não seria o caso de fortalecer as emissoras educativas públicas já existentes, todas frágeis, em vez de criar uma concorrente delas. Esse é mais um caso, entre tantos, em que sentimos o cheiro do ralo. PS- Bem empregado, o computador é um valiosíssimo instrumento para estimular o aprendizado. Tenho visto, dentro e fora do país, as maravilhas da educomunicação - a comunicação aplicada à educação. Descobre-se o encanto de aprender através da produção de vídeos, blogs, fanzines, jornais, fotografias, rádio e televisão. São recursos que ajudam a dar sentido aos conteúdos das salas de aula, estimulam o ensino da língua e desenvolvem a auto-estima do aluno. Separei, em meu site ( www.dimenstein.com.br), experiências, no Brasil, de comprovado sucesso no uso da comunicação para estudantes, algumas delas em fase de disseminação na rede pública.
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