São Paulo, sexta-feira, 01 de maio de 2009

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Queda da criminalidade será mais difícil daqui para frente, dizem pesquisadores

DA REPORTAGEM LOCAL

A queda nos índices de homicídios em São Paulo vai se tornar cada vez mais difícil nos próximos anos, uma vez que esse tipo de crime alcançou um patamar baixo, segundo afirmaram à Folha dois especialistas em segurança.
"São Paulo vinha tendo uma queda nos homicídios ao longo dessa última década, mas ela já está amortecendo. Quando o número de casos diminui, a continuação da queda fica mais difícil", disse o sociólogo Ignácio Cano, da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Segundo a antropóloga Paula Miraglia, diretora do Ilanud (instituto latino-americano das Nações Unidas para prevenção do delito e tratamento do delinquente), o desafio do governo será combater homicídios relacionados ao tráfico de entorpecentes.
Segundo ela, a redução dos últimos anos foi nos assassinatos motivados por brigas entre conhecidos, nos desentendimentos em bares e no trânsito e nos crimes passionais.
Isso porque o Estado conseguiu implementar a redução na circulação de armas de fogo e o fechamento de bares em alguns municípios.
"Em São Paulo, o problema é que a taxa de esclarecimento dos homicídios é baixíssima, e o impacto disso [na taxa de criminalidade] é direto. É preciso agora investir em investigação e esclarecimento dos homicídios", disse ela.

Crises
Os dois especialistas concordam que o contexto da crise econômica não é suficiente para explicar o aumento nas estatísticas de crimes.
"Há vários estudos no Brasil e no exterior, mas é uma questão controversa a de até que ponto o ciclo econômico impacta o crime. A longo prazo, a exclusão social é um dos motores do crime, mas em que medida isso afeta [os índices de criminalidade a curto prazo] ainda é uma questão aberta a debate", afirmou Cano.
"São Paulo sempre explicou a redução dos seus indicadores de criminalidade em função da boa política de segurança, então não é coerente explicar a estatística de criminalidade em função da crise", disse Paula.
Os dois também afirmaram que a troca de Ronaldo Marzagão no cargo de secretário da Segurança Pública por Antônio Ferreira Pinto, no mês de março, não influenciou os índices de criminalidade.
Segundo Paula, a rapidez tanto na transição do cargo quanto na substituição de dirigentes das polícias Civil e Militar colaborou para que não houvesse impacto nas estatísticas criminais.
"Mas acho que os números são um alerta, São Paulo tem muitos méritos na redução de homicídios, mas eles [os números] evidenciam que a política de segurança tem ainda um conjunto bem substantivo de desafios", disse a antropóloga.


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