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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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TIM LOPES

Após um ano do assassinato, medo da violência impede novas iniciativas para favela e promessas não saem do papel

Morte de jornalista afasta projetos sociais

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O assassinato do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, em 2 de junho do ano passado, levou para a favela Vila Cruzeiro, no complexo do Alemão (Penha, zona norte do Rio), o estigma da violência e afastou projetos sociais do local.
Na favela, o jornalista foi capturado por traficantes. Ele estava na Vila Cruzeiro para filmar um baile funk com uma microcâmera. Foi torturado e morto na vizinha favela da Grota. Tinha 51 anos.
À época, a governadora Benedita da Silva (PT) prometeu que o morro seria ocupado socialmente. Seriam implantados na comunidade postos médico e odontológico, unidades móveis da Receita Federal e do Ministério do Trabalho, centros de esporte e lazer e cursos profissionalizantes.
Um ano depois, segundo lideranças locais, confirmadas pela atual administração estadual, os projetos nunca saíram do papel.
"O que sobrou para a comunidade foi a decepção depois de tantas promessas. As coisas estão até piores, porque, com a imagem da violência, ninguém tem coragem de entrar aqui", disse o presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, Antônio Tibúrcio.
Ele conta que, desde a morte de Tim, os projetos sociais que existiam na favela têm diminuído gradativamente. Projetos novos não têm sido implantados. Existem apenas um projeto piloto da prefeitura, chamado Agentes da Liberdade, em que 11 ex-detentos fazem cursos de qualificação profissional, e uma escolinha de futebol, também municipal.
Outros projetos foram prometidos por ONGs, entidades religiosas e pelas administrações estadual e municipal, mas nada foi feito. O medo da violência contribuiu para a falta de ações sociais na favela, o que tem gerado mais desemprego.
"Nós ficamos com uma fama ruim, o que não tínhamos antes. Tudo está pior. Muitos moradores que trabalhavam na comunidade, como agentes de saúde, por exemplo, perderam o emprego. E arrumar trabalho lá fora também é complicado por causa do preconceito contra quem é daqui."
A única promessa cumprida pelo governo estadual foi a instalação do Gpae (Grupamento de Áreas Especiais), da PM (Polícia Militar). Planejado para reduzir a violência, o Gpae é uma tropa especializada em policiamento comunitário preventivo.
O objetivo, que é de se integrar à comunidade, como forma de evitar confrontos violentos, não tem sido cumprido. O próprio comandante da unidade, major Rogério Seixas, admite que a integração "leva tempo e é muito difícil".
Segundo ele, os 111 policiais militares que integram o Gpae passaram por um curso de direitos humanos e policiamento comunitário, mas não existe uma relação amistosa com os moradores.
"A gente vê muito policial circulando, mas acho que eles nem sabem o nome das lideranças da comunidade", disse Tibúrcio.
O secretário estadual de Ação Social e Cidadania, Fernando William, concorda. "O Gpae não cumpre seu papel porque ele deveria vir acompanhado de ações sociais, o que não aconteceu."
Questionado sobre o fato de nada ter sido feito pela gestão da governadora Rosinha Matheus (PSB), que completou cinco meses, o secretário alega que foi criado o projeto Vida Nova, que atende a 30 jovens na favela. Ele afirma que também está sendo concluída uma proposta de "intervenção social" em áreas prioritárias.



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