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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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VIOLÊNCIA

De 1994 até 2002, registros em delegacias de defesa da mulher dobraram, mas denunciantes ainda são minoria

Mulheres denunciam mais agressões

DO "AGORA"

As mulheres paulistas estão menos tolerantes à violência doméstica. Um indício dessa mudança é que, nos últimos nove anos, mais que dobrou o número de registros feitos nas Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) do Estado.
Em 1994, cerca de 114 mil mulheres registraram ocorrências nas DDMs. Em 2002, o número saltou para 288 mil -aumento de 150%. No mesmo período, a população feminina cresceu apenas 20%. Considerado o crescimento populacional, as denúncias tiveram um acréscimo de 107%.
Esse dado não reflete, necessariamente, um crescimento na violência. "Isso significa que as mulheres estão perdendo o medo de denunciar. Não podemos dizer que a violência aumentou, pois só temos conhecimento quando o caso chega à delegacia", avalia Márcia Buccelli Salgado, delegada titular da Delegacia Geral da Mulher da capital paulista.
A maioria das mulheres vai às delegacias para denunciar ameaças e espancamentos. A reportagem teve acesso a estatísticas de DDMs de todo o Estado desde 1994 e constatou um aumento de quase 93% em casos de lesões corporais -ou seja, as denúncias praticamente dobraram.
Houve um crescimento ainda maior nas denúncias de ameaças. A média mensal no Estado, em 94, ficou em 2.561. No primeiro trimestre de 2003, esse número subiu para 7.129 por mês -um aumento de 130%.
Os números se tornam mais preocupantes ao levar em conta uma pesquisa feita, em 2001, pela Fundação Perseu Abramo, com 2.502 mulheres de 187 municípios de todo o país. "Constatamos que, de cada cem mulheres, 33 já sofreram algum tipo de agressão física", diz Marisol Recaman, coordenadora do Núcleo de Opinião Pública.
Se fosse inserido, nesse contexto, o universo de mulheres paulistas que fazem registros policiais -duas em cada cem-, seria possível afirmar que 94% das mulheres ainda sofrem em silêncio.
Muitas preferem recorrer a ONGs (Organizações Não-Governamentais) que dão apoio em casos de violência doméstica. Na Fundação Francisca Franco, a maior parte das mulheres atendidas nos últimos três anos tem mais de 30 anos.
Segundo a delegada Márcia, a maioria das denunciantes é de classes sociais mais baixas. "Mulheres mais simples se preocupam menos em expor o marido. As de classes mais altas, quando têm de recorrer a alguém, procuram um advogado", explica.



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