São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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SAÚDE

Mãe biológica da criança nasceu sem útero, mas ovulava; por ano, pelo menos cinco bebês nascem por meio dessa técnica

Nasce em BH bebê gerado pela avó paterna

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

MAURO ALBANO
DA AGÊNCIA FOLHA

Ela foi fecundada no laboratório e gerada no útero da avó paterna. Ao nascer, foi para os braços da mãe biológica, que, imediatamente, passou a amamentá-la. Assim começa a história da mineirinha Bianca, que nasceu anteontem em uma maternidade em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte (MG).
A mãe biológica de Bianca, Veridiana do Vale Menezes, 30, nasceu sem útero e com ovários perfeitos. Após tratamento de reprodução assistida, seu óvulo foi extraído e fecundado com o espermatozóide do marido, Fabiano de Menezes, 30, no laboratório.
O embrião foi transferido para o útero da sogra de Veridiana, Elizabeth Sales, 53, mãe de dois filhos e sem netos. "Foi uma gravidez que exigiu uma vigilância maior por causa da idade, mas tudo correu bem e o parto foi tranqüilo", disse o ginecologista e obstetra Garibalde Mortoza Júnior, que realizou o parto.
Enquanto Bianca crescia na barriga de Elizabeth, Veridiana fazia um tratamento para estimular a lactação. Duas semanas antes do parto, a mãe biológica já produzia leite e agora é ela quem amamenta o bebê. Elizabeth, que também tem leite, diz que vai doá-lo para uma maternidade.
A clínica Pró-Criar, de Belo Horizonte, responsável pela fertilização assistida, teve de pedir uma autorização do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais para que a gestante fosse parente do pai da criança.
Uma resolução do Conselho Federal de Medicina só autoriza o procedimento com parentes de primeiro e segundo graus da mãe biológica. A mãe de Veridiana morreu havia três anos.
Segundo estimativa da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida), por ano, em média 20 bebês nascem por meio de um útero emprestado. Desses, pelo menos cinco são gerados pelas avós materna ou paterna.
Entre os médicos, o tema ainda é polêmico. O urologista Edson Borges Júnior, diretor da clínica Fertility (SP), diz ser contrário ao empréstimo do útero por uma mulher de 53 anos, como foi o caso de Elizabeth. "É uma gravidez muito arriscada. São grandes as chances de hipertensão, diabetes ou falência ovariana", afirma.
Para o ginecologista Selmo Geber, presidente da SBRA, tendo a avó boa saúde, a alternativa ainda é melhor do que usar o útero de uma irmã, por exemplo. "Se ela ainda não for mãe, há os riscos da complicações do parto. Se ela já tem outros filhos, pode haver problemas com o marido", diz.


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