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HABITAÇÃO
Arquiteto indiano diz que situação é séria, mas acredita que governo tem recursos suficientes para resolver a questão
Relator da ONU compara Brasil a Índia
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil não está tão longe da
pobreza e das condições precárias
de vida da Índia quanto se imagina. É o que afirma o relator especial da ONU (Organização das
Nações Unidas) para as questões
de direito à moradia, o arquiteto
indiano Miloon Kothari, que
comparou os problemas habitacionais dos dois países em seu segundo dia em São Paulo.
"Há muitas similaridades entre
Brasil e Índia em termos de moradia. O nível de pobreza dos dois
países é bastante parecido", disse.
Kothari esteve ontem na favela
do Gato, em três prédios ocupados (um pelo Movimento de Moradia do Centro, dois pela Unificação das Lutas de Cortiço, a
ULC) e em um terreno abandonado onde havia um hospital, demolido pelo Estado, antes ocupado por integrantes da ULC. Todos
na região central.
O relator conversou com moradores e com líderes de movimentos sociais ligados à questão da
moradia. "Essa visita pode acordar nossos governantes para a urgência de moradias no Brasil",
acredita o líder sem-teto Luiz
Gonzaga da Silva, 54, o Gegê.
Sua visita de inspeção, que ainda deve passar por Brasília, Rio de
Janeiro, Fortaleza, Salvador, Recife e Alcântara (MA), será acompanhada pelo relator nacional pelo direito humano à moradia adequada, o advogado Nelson Saule
Jr. Em um relatório prévio, Saule
apontou haver déficit de moradia
para 11,7% da população brasileira ou 20,2 milhões de pessoas.
Leia, a seguir, trechos de entrevista com o relator da ONU.
Folha - Como o sr. avalia a situação da moradia em São Paulo?
Miloon Kothari - A situação aqui
é bem séria. Houve uma negligência histórica que gerou as favelas,
os cortiços etc. É importante que
o governo dê prioridade total
àqueles que vivem nas situações
precárias que presenciei.
Folha - Qual é o propósito da inspeção da ONU?
Kothari - Checar se o país está
cumprindo suas obrigações em
relação à moradia. Minha impressão é que o governo federal, pelo
menos, está interessado no tema.
Mas quero ver se seus projetos serão mesmo implementados.
Folha - Que tipo de ajuda o Brasil
pode obter nessa área?
Kothari - Não se trata de uma
questão de recursos externos. O
Brasil tem recursos suficientes para resolver a questão da moradia
por si só. A pergunta é quando esses recursos serão redirecionados
para essa questão. Enquanto a
moradia no Brasil não melhorar,
será uma violação do direito à habitação -um compromisso assumido pelo governo brasileiro
em pactos internacionais.
Folha - Como mudar a situação?
Kothari - Uma recomendação
preliminar é que o governo responda às reivindicações dos movimentos populares.
Folha - A situação da moradia no
Brasil é comparável à da Índia?
Kothari - Sim. Há muitas similaridades entre Brasil e Índia. O nível de pobreza é bastante parecido. As condições que vi em São
Paulo são tão ruins quanto as da
Índia. Mas, como lá temos uma
população muito maior, há mais
gente nessa situação. Só que os
movimentos sociais daqui são
mais consistentes.
Folha - Como o governo deveria
lidar com os movimentos que promovem ocupações?
Kothari - Deveria haver uma política que reconhecesse que, devido à situação de violação de direitos que essas pessoas vivem, não
há alternativa.
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