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SAÚDE
Síndrome intestinal afeta mais a mulher
DA REPORTAGEM LOCAL
Os sintomas, boa parte da população conhece, de acordo com
os estudos internacionais. Dor abdominal, mudanças nas funções
intestinais, como constipação
(prisão de ventre) ou diarréia, e
uma sensação frequente de "plenitude", que causa desconforto e
inchaço do abdômen. Mas certamente muitas pessoas ainda sofrem sem saber que podem ser
portadoras da SII (síndrome do
intestino irritável).
Os estudos apontam que até
20% da população no Ocidente
tem o problema. A causa exata da
síndrome, nem os médicos sabem
ainda, mas há evidências de que
ela possa estar associada a distúrbios na motilidade do intestino e a
fatores psicossomáticos (veja
quadro), entre outros.
A estudante de direito Lilian
Machado Lasmar, 22, tem o distúrbio desde os 11 anos, mas nunca considerou o problema grave.
"Eu me tratava com uma espécie de medicina caseira, comia
mamão, laranja, mas nada resolvia", disse Lilian. Com o passar
dos anos, segundo ela, as dores e
os incômodos foram aumentando. "Sentia um enorme mal-estar,
dores de cabeça e desânimo. Chegava a ficar uma semana sem ir ao
banheiro."
Lilian chegou a ficar dependente de laxantes, que lhe causavam
um alívio passageiro.
As mulheres, no Ocidente, são
as principais vítimas, de acordo
com estudos internacionais, mas
também não se sabe exatamente o
porquê. Substâncias liberadas durante o período pré-menstrual
aumentam a secreção de água e
favorecem os episódios de diarréia, o que pode ser uma explicação possível para os casos em que
a síndrome tem esse sintoma.
Também há indícios de que os
homens não dão tanta atenção a
alguns sintomas do distúrbio, daí
a menor frequência de relatos do
problema entre eles.
Segundo o professor e chefe da
disciplina de gastroenterologia da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), Sender Miszputen, o
diagnóstico da síndrome é feito
pela exclusão de outros possíveis
distúrbios. Os pacientes geralmente são jovens, têm os sintomas há muito tempo e não têm
outros problemas de saúde.
A associação com infecções do
intestino e herança genética também é possível, afirmou.
A dentista Vânia Regina da Silva, 35, sentia desde o ano de 96
dores muito fortes, constantes e
expansão da região abdominal,
sempre do lado esquerdo. Ela somente procurou um médico no
ano passado. Vânia afirmou que
mesmo com dores fortes não se
automedicava e nem mudava a
dieta, pois nada disso resolvia
nem amenizava a dor.
Vânia conta que, em alguns
dias, até deixava de trabalhar por
causa do problema.
"Tinha vontade de ficar deitada.
Além disso, ficava irritada com a
situação e muito mal-humorada.
Estava em um restaurante com
meus amigos e não me divertia direito por causa da dor."
De acordo com o diretor do serviço de gastroenterologia do Hospital do Servidor Público Estadual, Eduardo Antônio André, a
perda de qualidade de vida é a
principal consequência da síndrome. "Você não tem segurança
para ir jantar, ir a uma viagem."
Nos EUA, estima-se que a síndrome seja responsável por até
3,5 milhões de atendimentos médicos anuais.
Segundo André, em casos mais
leves, uma orientação sobre a alimentação pode aliviar os sintomas. "O relacionamento adequado médico-paciente às vezes funciona mais do que a droga", afirmou o médico.
Em um encontro recente da Sociedade Americana de Gastroenterologia, segundo André, estudos comparativos da qualidade
de vida de um portador da SII, de
pacientes depressivos, de diabéticos e de pessoas normais mostrou
que os portadores da síndrome tinham prejuízos muitos próximos
dos daqueles indivíduos que estavam com depressão.
Muitos pacientes, disse o gastroenterologista, apresentam
grande preocupação com a possibilidade de terem doenças mais
graves, como câncer, o que acaba
sendo o motivo para que eles procurem um especialista.
Alimentos
Para a nutricionista Anita Sachs,
professora da Unifesp, a síndrome pode estar associada a problemas alimentares, como falta de fibras na alimentação, ou a alguma
substância a que a pessoa tenha
intolerância.
Os alimentos irritantes mais comuns, disse a nutricionista, são a
lactose, presente no leite e derivados, açúcares e bebidas alcóolicas.
Uma dieta equilibrada, que evite gorduras, alimentos irritantes e
condimentados, que provoquem
gases, doces em caldas, alguns tipos de leguminosas (feijão, lentilha, couve) e bebidas alcóolicas
ajudam a diminuir o mal-estar
causado pela SII, disse a nutricionista. Mas cada paciente tem uma
dieta específica a ser seguida, pois
é preciso detectar a que substância ou alimento há intolerância
pelo organismo.
As dietas costumam durar
aproximadamente um mês, disse
a especialista. De acordo com ela,
no entanto, somente a má alimentação não é capaz de provocar o
problema.
Estudo
Lilian participa há um mês de
um estudo com um remédio que
tem como princípio ativo o tegaserode, nova droga considerada
promissora pelos médicos, mas
que ainda não está sendo comercializada (leia texto nesta pág.).
"Não tem termo melhor para definir como me sinto: aliviada."
Vânia também está em tratamento com o tegaserode há um
mês. Ela ainda enfrenta alguns
problemas causados pelo distúrbio. "Antes eu ficava de três a cinco dias sem ir ao banheiro, mas,
quando sentia vontade, ia correndo. Hoje ainda sinto isso."
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