São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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SAÚDE
Síndrome intestinal afeta mais a mulher

DA REPORTAGEM LOCAL

Os sintomas, boa parte da população conhece, de acordo com os estudos internacionais. Dor abdominal, mudanças nas funções intestinais, como constipação (prisão de ventre) ou diarréia, e uma sensação frequente de "plenitude", que causa desconforto e inchaço do abdômen. Mas certamente muitas pessoas ainda sofrem sem saber que podem ser portadoras da SII (síndrome do intestino irritável).
Os estudos apontam que até 20% da população no Ocidente tem o problema. A causa exata da síndrome, nem os médicos sabem ainda, mas há evidências de que ela possa estar associada a distúrbios na motilidade do intestino e a fatores psicossomáticos (veja quadro), entre outros.
A estudante de direito Lilian Machado Lasmar, 22, tem o distúrbio desde os 11 anos, mas nunca considerou o problema grave.
"Eu me tratava com uma espécie de medicina caseira, comia mamão, laranja, mas nada resolvia", disse Lilian. Com o passar dos anos, segundo ela, as dores e os incômodos foram aumentando. "Sentia um enorme mal-estar, dores de cabeça e desânimo. Chegava a ficar uma semana sem ir ao banheiro."
Lilian chegou a ficar dependente de laxantes, que lhe causavam um alívio passageiro.
As mulheres, no Ocidente, são as principais vítimas, de acordo com estudos internacionais, mas também não se sabe exatamente o porquê. Substâncias liberadas durante o período pré-menstrual aumentam a secreção de água e favorecem os episódios de diarréia, o que pode ser uma explicação possível para os casos em que a síndrome tem esse sintoma.
Também há indícios de que os homens não dão tanta atenção a alguns sintomas do distúrbio, daí a menor frequência de relatos do problema entre eles.
Segundo o professor e chefe da disciplina de gastroenterologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Sender Miszputen, o diagnóstico da síndrome é feito pela exclusão de outros possíveis distúrbios. Os pacientes geralmente são jovens, têm os sintomas há muito tempo e não têm outros problemas de saúde.
A associação com infecções do intestino e herança genética também é possível, afirmou.
A dentista Vânia Regina da Silva, 35, sentia desde o ano de 96 dores muito fortes, constantes e expansão da região abdominal, sempre do lado esquerdo. Ela somente procurou um médico no ano passado. Vânia afirmou que mesmo com dores fortes não se automedicava e nem mudava a dieta, pois nada disso resolvia nem amenizava a dor.
Vânia conta que, em alguns dias, até deixava de trabalhar por causa do problema.
"Tinha vontade de ficar deitada. Além disso, ficava irritada com a situação e muito mal-humorada. Estava em um restaurante com meus amigos e não me divertia direito por causa da dor."
De acordo com o diretor do serviço de gastroenterologia do Hospital do Servidor Público Estadual, Eduardo Antônio André, a perda de qualidade de vida é a principal consequência da síndrome. "Você não tem segurança para ir jantar, ir a uma viagem."
Nos EUA, estima-se que a síndrome seja responsável por até 3,5 milhões de atendimentos médicos anuais.
Segundo André, em casos mais leves, uma orientação sobre a alimentação pode aliviar os sintomas. "O relacionamento adequado médico-paciente às vezes funciona mais do que a droga", afirmou o médico.
Em um encontro recente da Sociedade Americana de Gastroenterologia, segundo André, estudos comparativos da qualidade de vida de um portador da SII, de pacientes depressivos, de diabéticos e de pessoas normais mostrou que os portadores da síndrome tinham prejuízos muitos próximos dos daqueles indivíduos que estavam com depressão.
Muitos pacientes, disse o gastroenterologista, apresentam grande preocupação com a possibilidade de terem doenças mais graves, como câncer, o que acaba sendo o motivo para que eles procurem um especialista.

Alimentos
Para a nutricionista Anita Sachs, professora da Unifesp, a síndrome pode estar associada a problemas alimentares, como falta de fibras na alimentação, ou a alguma substância a que a pessoa tenha intolerância.
Os alimentos irritantes mais comuns, disse a nutricionista, são a lactose, presente no leite e derivados, açúcares e bebidas alcóolicas.
Uma dieta equilibrada, que evite gorduras, alimentos irritantes e condimentados, que provoquem gases, doces em caldas, alguns tipos de leguminosas (feijão, lentilha, couve) e bebidas alcóolicas ajudam a diminuir o mal-estar causado pela SII, disse a nutricionista. Mas cada paciente tem uma dieta específica a ser seguida, pois é preciso detectar a que substância ou alimento há intolerância pelo organismo.
As dietas costumam durar aproximadamente um mês, disse a especialista. De acordo com ela, no entanto, somente a má alimentação não é capaz de provocar o problema.

Estudo
Lilian participa há um mês de um estudo com um remédio que tem como princípio ativo o tegaserode, nova droga considerada promissora pelos médicos, mas que ainda não está sendo comercializada (leia texto nesta pág.). "Não tem termo melhor para definir como me sinto: aliviada."
Vânia também está em tratamento com o tegaserode há um mês. Ela ainda enfrenta alguns problemas causados pelo distúrbio. "Antes eu ficava de três a cinco dias sem ir ao banheiro, mas, quando sentia vontade, ia correndo. Hoje ainda sinto isso."



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