São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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RIO

Crediário permite compra de bens duráveis, diz pesquisador

97,5% dos moradores de favela têm geladeira, aponta pesquisa

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisa do Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião) revela que o acesso aos bens de consumo de moradores das favelas do Rio de Janeiro é muito similar ao da classe média brasileira.
Geladeira e televisão a cores são os eletrodomésticos campeões. Segundo o estudo da ONG, 97,5% das pessoas que moram em favelas têm geladeira e 96,4% possuem pelo menos uma televisão.
Máquina de lavar roupas e videocassete, considerados mais luxuosos, estão presentes em mais da metade das moradias dos entrevistados: 57,7% dos moradores usam máquina para lavar roupa e 55% possuem videocassete.
Apesar da dificuldade de locomoção dentro de muitas favelas (faltam ruas asfaltadas, as vias são tão estreitas que só permitem passar a pé ou de bicicleta), 15% de seus moradores têm carro.
Outro dado da pesquisa é o de contratação de empregada doméstica: 2,4% das pessoas usam o serviço de uma mensalista.
Os dados são reveladores quando comparados à renda média dos chefes de família dessas comunidades: 60,6% deles ganham até três salários mínimos por mês. O salário mínimo é de R$ 200.
Para Bernardo Sorj, sociólogo e pesquisador do Iser, isso pode ser explicado pelo elevado uso do sistema de crediário. "Mesmo com baixa renda média, essas pessoas conseguem, com grande esforço, ter acesso aos bens de consumo mais básicos e a outros, como o videocassete, por exemplo. Isso é possível graças ao crediário."
Para Sorj, os dados são desmistificadores. "A maior parte das pessoas acha que os moradores de favela não têm acesso a quase nenhum bem de consumo durável. Mesmo havendo desigualdade social, os pobres conseguem adquirir esses bens."
Mas o sociólogo pondera que só nesse aspecto essas pessoas se aproximam dos da classe média, pois eles continuam sendo excluídos dos serviços públicos básicos. "A grande maioria deles continua sem acesso à escola e aos empregos. O levantamento mostra que 63% dos chefes de família não têm ensino fundamental completo."
A pesquisa, feita entre 10 e 22 deste mês em 37 comunidades carentes da cidade do Rio, teve 866 pessoas entrevistadas. A margem de erro é de 3,41 pontos percentuais, para mais ou para menos.



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