São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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SAÚDE

Estudos feitos em ratas e vacas mostram maior risco de aborto; médicos recomendam cautela às mulheres

Dieta de Atkins pode prejudicar fertilidade

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mulheres que estejam tentando engravidar devem evitar dietas ricas em proteína, como a de Atkins, por causa do maior risco de abortos e nascimento de bebês prematuros. É o que sugere recente estudo experimental feito pela Universidade do Colorado (EUA), com ratas, que veio a confirmar outra pesquisa similar realizada com vacas.
Ao submeter as ratas prenhes a uma dieta diária de 25% de proteínas durante quatro semanas, os pesquisadores concluíram que o índice de implantação dos embriões foi de 65%. Já entre as ratas sujeitadas a uma dieta normal (14% de proteínas), o percentual de sucesso foi de 81%.
A razão do insucesso seria a produção excessiva de corpos cetônicos -componentes tóxicos produzidos a partir da degradação das moléculas de proteína-, que interferem no desenvolvimento fetal. No trato reprodutivo das ratas submetidas à dieta protéica, por exemplo, foi encontrada quatro vezes mais quantidade do agente tóxico do que entre as ratinhas em dieta normal.
Mesmo diante da inexistência de pesquisas que indiquem o prejuízo de altas quantidades de proteína à fertilidade humana, há médicos que desaconselham esse tipo de dieta às mulheres que tentam uma gravidez-espontaneamente ou por meio de tratamentos da reprodução assistida.
"No período da estimulação ovariana [por meio de hormônios], orientamos para que as pacientes diminuam a proteína e aumentem um pouco o consumo de carboidrato", afirma o médico Edson Borges, especialista em reprodução assistida.
As mulheres são orientadas a reduzirem a atividade física porque a prática também produz os corpos cetônicos.
Para Borges, é muito provável que a toxicidade desses corpos afetem o desenvolvimento inicial do embrião humano. Na avaliação dele, é conveniente interromper a dieta hiperprotéica antes mesmo da confirmação da gravidez, que geralmente ocorre por volta da 5ª semana de gestação.
"É importante que o ambiente uterino esteja com baixo nível de substâncias tóxicas", afirma.
No último encontro da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, ocorrido em junho, em Berlim (Alemanha), os próprios pesquisadores que fizeram o estudo com as ratas afirmaram que as mulheres que estejam tentando ter um bebê devem ser "prudentes" e limitar a ingestão de proteína a 20% de sua dieta.
Na avaliação da endocrinologista Valéria Cunha Campos Guimarães, presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), é possível que dietas como a de Atkins produzam excesso de corpos cetônicos também em mulheres e, isso ocorrendo, os riscos de aborto seriam parecidos aos que enfrentam as mulheres diabéticas, que também produzem essas substâncias tóxicas em excesso quando a doença não está controlada.

Emagrecer
A redução do peso em pelo menos 15% é uma das primeiras medidas para as candidatas à mãe que estejam obesas e encontrando dificuldades de gravidez, especialmente se elas forem portadoras da síndrome dos ovários policísticos, de acordo com a ginecologista Cláudia Gazzo.
A obesidade altera os níveis de insulina liberados pelo pâncreas na mulher, o que desencadeia uma superprodução de hormônios masculinos pelos ovários e, por sua vez, a interrupção da liberação de óvulos.
Segundo Gazzo, a perda de peso auxilia na melhora da irregularidade menstrual e na regulação da glicose no sangue. "Isso independe da dieta, mas o ideal é que seja uma equilibrada", diz.
O ginecologista Arnaldo Schizzi Cambiaghi também percebe melhora da resposta ovariana e dos índices de sucesso das FIVs (fertilizações in vitro) das mulheres que conseguem emagrecer.
"O problema é a ansiedade. A maioria das mulheres que quer engravidar não aceita a sugestão de primeiro emagrecer."
Ana Luiza Carl, 28, foi uma exceção. Em 2000, após tentar por dois anos uma gravidez, ela decidiu fazer uma dieta -com acompanhamento de uma endocrinologista- e perdeu 17 kg. Passou de 78 para 61 kg. Logo em seguida, engravidou espontaneamente.
Cambiaghi diz que já começa a perceber melhora na fertilidade de mulheres que fizeram cirurgias de redução de estômago.
Mas cuidado: a perda excessiva de peso também prejudica a fertilidade tanto de homens como em mulheres porque a transmissão de mensagens hormonais que o cérebro envia aos ovários e aos testículos torna-se reduzida.
A dica de Cambiaghi é dieta balanceada. Para as mulheres, uma maior ingestão de trigo, soja e verduras de cor verde escuro, que possuem ácido fólico e evitam más-formações. Para os homens, os frutos do mar, que têm zinco, ajudam na espermatogênese.


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