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MARIA INÊS DOLCI
Avestruz caro
Dinheiro (honesto) não
dá em árvore. Resulta de
anos de estudo, de altos e
baixos na vida profissional
VOCÊ TEM experiência agrícola,
já plantou ao menos um pé de
couve na vida? Então, como
se julga apto, em meio à montanha
de concreto dos prédios e do asfalto
das avenidas, a investir sua suada
poupança mensal na criação de
avestruzes?
Esse é somente um repto para comentar que a Justiça de Goiás decretou, na semana passada, a falência da Avestruz Master, maior criatório do Brasil, que tinha mais de 50
mil investidores.
Antes dessa empresa, também vivemos, há mais de dois anos, situação similar com as Fazendas Reunidas Boi Gordo. A única diferença foi
a troca do animal utilizado para
atrair investidores: saiu o boi gordo,
entrou o avestruz.
Sempre há explicações de sobra
dos proprietários desses, digamos,
empreendimentos para justificar o
não-pagamento a seus credores.
Mas, com explicações razoáveis ou
não, essas pessoas que acreditaram
em uma nova forma de ganhar dinheiro, agregada ao desempenho fabuloso do Brasil no agronegócio,
perderam um dinheiro que é cada
vez mais difícil de ganhar nesse país
do "Copom cauteloso" e das taxas de
juros extravagantemente altas.
O objetivo de abordar esse tema
não é, obviamente, criticar quem investiu em bois e avestruzes. Isso é
um direito de cada um. Alertamos,
contudo, o cidadão de classe média
-os de baixa renda não têm o que
investir; os ricos têm quem invista
para eles- de que retorno de investimento muito acima da média não é
comum.
Quanto maior o risco, maiores as
taxas oferecidas. Porém, em muitos
desses casos de investimentos, não
há sequer risco. A perda é inevitável.
Digamos que houvesse, realmente,
interesse de remunerar o investimento em um avestruz. Mercados
agropecuários são sujeitos a variações de preços, a problemas climáticos, a doenças inesperadas, a variações cambiais.
Isso não significa que todos devam ser conservadores em seus investimentos. De modo algum. Há investidores arrojados, que arriscam
muito, em busca de um ganho elevado. Nesse caso, contudo, é importante que não seja investido tudo o
que a pessoa tem, porque as chances
de perder são muito elevadas.
Há um outro aspecto dessa questão: por que as autoridades não exigem dessas empresas, quando estão
se instalando, um valor depositado
em conta especial, equivalente a
uma parcela dos investimentos que
receberão?
Ou poderia ser exigido dessas empresas um seguro especial para cobrir eventuais perdas de investidores. Seria uma forma de minimizar
os danos de empreendimentos que
faliram por incúria ou má-fé.
Enquanto as autoridades não têm
uma resposta adequada a essa necessidade, vamos ser mais cuidadosos com o nosso dinheiro. Tratá-lo
como uma extensão de nossa dedicação ao trabalho e como uma antecipação de nossos sonhos.
Dinheiro (honesto) não dá em árvore. Resulta de muitos anos de estudo, de uma trajetória cheia de altos e baixos na vida profissional. De
economias e privações. Por isso, não
deixe bois gordos e avestruzes comerem seu dinheiro.
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
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