São Paulo, Domingo, 01 de Agosto de 1999
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SAÚDE
Comida orgânica já está no menu do brasileiro

SILVIA RUIZ
da Reportagem Local

A comida orgânica, moda que invadiu países como Inglaterra e Alemanha, começa a conquistar adeptos no Brasil. Em São Paulo, onde já existem feiras, serviços de entrega em domicílio e até restaurantes especializados, esse mercado cresceu 20% no ano passado.
Ao contrário da alimentação vegetariana ou de outras correntes naturalistas, a culinária orgânica inclui tudo o que é consumido na alimentação convencional, do hambúrguer ao chocolate e até vinho. A diferença é que todos os ingredientes são cultivados, produzidos e processados sem o uso de agrotóxicos, produtos químicos para conservação ou alterações genéticas.
Os adeptos da comida orgânica acreditam que esses aditivos químicos causam, a longo prazo, danos ao organismo. Além disso, eles têm uma preocupação ecológica: temem o impacto de pesticidas e transgênicos (alimentos modificados geneticamente pela biotecnologia) no meio ambiente. Eles também defendem os animais e se recusam a comer carne de frango e de gado criados confinados, à base de ração.
Os defensores da comida orgânica garantem que ela é mais saborosa e nutritiva. Pelo menos no caso do ovo isso é verdade.
Uma análise comparativa, realizada pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo) revelou que os ovos de galinhas criadas soltas são quatro vezes mais ricos em vitamina A que os ovos de galinhas de granja. ""As galinhas soltas se alimentam de folhas e gramíneas, fontes dessa vitamina", diz a nutricionista Marilene Penteado, que conduziu o estudo.
Quanto aos vegetais e às frutas, a nutricionista diz que não é possível afirmar com certeza que os orgânicos são mais nutritivos que os convencionais.
O assunto tem causado muita polêmica. Não há estudos conclusivos sobre os efeitos de todos os aditivos químicos no organismo a longo prazo ou sobre os benefícios reais da comida orgânica.
Especialistas em nutrição e toxicologistas concordam que o ideal seria que toda comida fosse livre de produtos potencialmente tóxicos, mas dizem que seria impossível produzir alimentos para toda a população pelo sistema orgânico. Eles garantem que, se usados de forma adequada e controlada, os agrotóxicos não oferecem riscos à saúde.
""Qualquer substância pode ser nociva. O que faz a toxicidade é a dose. O problema é que, no Brasil, é difícil ter essa certeza", diz a toxicologista Elisabeth Nascimento, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.
E as denúncias de abuso no uso de agrotóxicos no país não são poucas. Documento da FAO (Organização da Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) aponta o Brasil como um dos países que mais exageram na aplicação de pesticidas.
No final do ano passado, por exemplo, O Instituto Biológico, ligado à Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, analisou 35 amostras de morangos e encontrou resíduos de pesticidas em 83% do lote.
Dependendo da dose ingerida, há riscos para o consumidor. ""Praguicidas em excesso podem causar diarréia, intoxicação alimentar e até mesmo problemas neurológicos", diz Nascimento.
Entre os alimentos com mais chances de apresentar resíduos estão o morango, a uva, a laranja, o tomate e a batata, segundo o professor de fitopatologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, Hasime Tokeshi.


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