São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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Risco leva a busca por abrigos

DA REPORTAGEM LOCAL

"Minha impressão é que entra mulher, sai mulher e muda só o nome, as histórias são muito parecidas", conta Maria Elisa Braga, assistente social da casa Eliane de Grammont há dez anos. A reportagem da Folha conversou com algumas dessas mulheres, que tiveram os nomes trocados e não puderam ser fotografadas, por questão de segurança.
Duas sofreram ameaças de morte e hoje estão em um abrigo mantido pela prefeitura, cujo endereço não é divulgado.
A empregada doméstica Joana, 26, acredita que o seu companheiro a agredia por desconfiar de sua fidelidade. "Acho que ele gosta de mim e não consegue admitir que tive outro relacionamento na época em que nos conhecemos, quando engravidei", diz.
A primeira violência foi uma ameaça, numa época em que o casal estava separado. Depois que Joana teve uma filha, o companheiro invadiu sua casa com uma arma na mão. O motivo seria a dúvida sobre a paternidade da menina.
Um mês depois, foram morar juntos. As constantes brigas por causa da criança acabaram em agressão física seis vezes.
"Queria ficar com ele a qualquer custo, que ele mudasse, mas ele não queria." Ela engravidou novamente e, quando o bebê completou dois meses, o companheiro teve uma nova crise de ciúme. "Ele ameaçou jogar a criança no chão. Fui à delegacia comum, mas eles me trataram muito mal."
Ela decidiu, então, fugir. Teve o apoio da sogra, que era sua vizinha. "Saí de casa, dormi na casa de uma colega e, no dia seguinte, fui à Delegacia da Mulher", conta. Dias depois, ela retornou, mas diz ter se arrependido. No dia da audiência na delegacia, ele fez novas ameaças, e ela foi encaminhada para um abrigo.
A primeira vez que Carla, 43, apanhou do companheiro, havia dois anos que eles moravam juntos. "Não sabia que ele era violento", conta.
Ela tem o segundo grau completo e trabalhava em laboratórios de análises clínicas, mas está desempregada. "Eu me considero inteligente, sei fazer um monte de coisas." É mãe de um menino de um relacionamento anterior e de uma menina com o agressor.
Quando ele espancou o filho de Carla, ela decidiu expulsá-lo de casa. O agressor fez novas ameaças. Carla foi até a delegacia comum, mas "eles não tomaram providência".
O companheiro acabou voltando, e Carla tinha que sustentar a casa, trabalhando 13 horas por dia. "Quando acabava o dinheiro, tinha que sair para catar latinha e comprar cigarros para ele."
Carla afirma que chegava a perder os sentidos de tanto apanhar. "Pensei em matá-lo, mas preferi fugir. Saí de casa com os meus filhos, só com a roupa do corpo."
Maria, 35, não sofreu agressões físicas, mas mudou de atitude em relação ao marido por falta de liberdade para trabalhar fora. Hoje, ela recebe um salário dele para ficar em casa.
"Quando cheguei à casa [Eliane de Grammont], achava que tinha de vir com o olho roxo. Não tinha marcas externas, mas sofria por dentro", conta.
Ela se casou com 15 anos e teve quatro filhos. "A gente brigava muito, principalmente por ciúmes. Descobri que me seguia, mas era ele quem tinha amantes."


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