São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Procurador compara caso de promotor a Jesus para justificar seu voto a favor do réu

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O procurador René Pereira de Carvalho, um dos 16 membros do Ministério Público de São Paulo que votaram pela permanência do promotor Thales Ferri Schoedl nos quadros da instituição, disse que o argumento vencedor observou apenas os "critérios objetivos", e não o clamor público que, para ele, nem sempre é correto.
"Se o clamor público fosse correto, sempre correto, não precisaria de lei. O clamor público tem suas falhas. O clamor público deixou [Adolf] Hitler fazer o que ele fez, o clamor público crucificou Jesus contra Barrabás. O clamor nem sempre corresponde a uma ação legítima", afirmou o procurador.
Carvalho é o quarto mais antigo na carreira no Estado e esteve por três vezes na lista tríplice para o cargo de procurador-geral, que é definido pelo governador de São Paulo.
Para o procurador, o Órgão Especial não poderia reverter a decisão do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo, que concedeu, em março, o vitaliciamento a Thales.
"Não podia [votar contra Thales], não tinha cabimento isso. Seria anulável pelo Tribunal [de Justiça]. Não temos esse poder. Esse poder é do Conselho Superior. Eu não vou jogar essa bomba na mão do Tribunal. Os desembargadores são nossos amigos", afirmou.
De acordo com o Ministério Público, porém, o Órgão Especial tem, sim, poderes para mudar a decisão e seria necessário apenas maioria simples para mudar o futuro do promotor. Caso contrário, ainda segundo a instituição, não teria lógica a realização da votação.
Será justamente o clamor público o principal argumento do advogado Pedro Lazarini, 46, para tentar reverter a decisão do Ministério Público de São Paulo no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).
Para ele, há um grande número de pessoas inconformadas com a posição dos procuradores paulistas em aceitar como membro um réu confesso em assassinato.
"Cristo foi crucificado porque na época não tinha o conselho nacional", afirmou Lazarini, em resposta ao procurador.
O advogado disse esperar ser publicada no "Diário Oficial" do Estado a decisão a favor de Thales para apresentar seu pedido no CNMP.
A Folha procurou ontem 12 procuradores que participaram da decisão, mas apenas Carvalho foi localizado e aceitou falar com a reportagem.

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