São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Para técnicos, pacote contraria prioridade a transporte coletivo

Ampliar sistema viário vai na contramão de tendência defendida por especialistas em planejamento urbano e de transportes

Para eles, prioridade deve ser um "plano de mobilidade", com investimentos em metrô e integração com ônibus


DA REPORTAGEM LOCAL

Investir na ampliação do sistema viário, privilegiando os carros, vai na contramão da idéia de priorizar o transporte coletivo, tendência defendida por especialistas em planejamento urbano e de transportes consultados pela Folha.
"Se a obra for para atender os ônibus, tudo bem. Se não, está na contramão da história", afirma Horácio Figueira, consultor de transportes.
"Não vai ter dinheiro para fazer tudo. Vão acabar escolhendo 20 viadutos e fazendo 0,5 km de corredor [para ônibus]. E a cidade vai continuar parada", afirma.
Para os especialistas, a ampliação do viário reanima o incentivo ao uso do automóvel -o que é uma "falsa ilusão", segundo o professor do departamento de transportes da USP Claudio Barbieri.
Entre cinco e dez anos, diz ele, a tendência é de volta dos congestionamentos, mesmo com as obras.
"É o projeto dos sonhos para quem tem carro. Mas será que, para a sociedade, é a melhor maneira de resolver o problema do deslocamento urbano?", questiona.
"Novas vias só estimulam as pessoas a morarem longe do trabalho, o que aumenta a quantidade de viagens. E em pouco tempo essas vias vão estar congestionadas."
Para os especialistas, porém, algumas obras, como a ligação entre a marginal Pinheiros e a rodovia dos Imigrantes, e pontes interligando os dois lados das marginais seriam desejáveis -embora não prioritárias.
Professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, Raquel Rolnik diz que a falta de um "plano de mobilidade" transforma a expansão viária de São Paulo em uma "colcha de retalhos", refém de projetos de empreiteiras "e não do interesse do cidadão".
"Não poria um centavo nessas obras. Colocaria tudo em transporte sobre trilhos e integração com ônibus", diz Rolnik.

Boom imobiliário
Pedro Taddei Neto, professor de planejamento urbano da FAU-USP, não vê problema no fato de as empreiteiras proporem idéias.
"A prefeitura é que não pode perder sua capacidade de planejar a cidade e antever soluções", pondera.
A adoção do pacote, diz Taddei, provocaria um boom imobiliário nas áreas contempladas pelas obras, o que aumentaria a densidade demográfica -e resultaria, novamente, em congestionamentos.
(RICARDO SANGIOVANNI)


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