RODRIGO FRANÇA
da Reportagem Local

Parar de trabalhar é o sonho da maioria dos apostadores da Mega Sena acumulada há oito semanas -que distribuirá um prêmio estimado em R$ 46 milhões. Mas, ainda que decida "pendurar as chuteiras", o felizardo terá de se iniciar numa nova "carreira": a de investidor.
"Por mais que peça para um gerente ou alguém de confiança cuidar do dinheiro, o vencedor terá de conhecer as opções de investimento para seu dinheiro", diz Gilberto Poso, gerente de risco da Lloyds Asset Manegement.
Não encare isso como desestímulo ao seu sonho de vida tranquila. Pelo contrário, o "salário" dessa nova profissão é atraente: mais de R$ 533 mil só no primeiro mês, segundo a LAM.
A projeção leva em conta os rendimentos de uma carteira de investimentos conservadora, com rentabilidade pouco superior a 1% ao mês.
Essa rentabilidade é até considerada abaixo do real potencial de ganho desse investimento. O rendimento da poupança -uma das aplicações mais conservadoras e que, portanto, rendem menos- é de 0,77% (para cadernetas com aniversário hoje).
O vencedor também teria pouco tempo para aprender os conceitos dessa nova carreira. Afinal, deixando o dinheiro parado, ele estaria perdendo diariamente mais de R$ 25 mil em rendimentos de juros de uma aplicação considerada conservadora. Pouco para um milionário? Pode ser, mas é o suficiente para comprar dois carros populares por dia.
Por isso, os analistas ouvidos pela Folha recomendaram ao megainvestidor colocar, assim que possível, o dinheiro em uma aplicação conservadora. "Como é popular e tradicional, a poupança pode ser uma boa opção para o primeiro mês, até o investidor traçar bem os planos do que vai fazer com o dinheiro", diz Alcides Pasqualini, gerente de produtos da Caixa Econômica Federal.
Mas lembre-se de que a poupança é boa opção apenas para não deixar o dinheiro parado, pois oferece baixo retorno e não garante a fortuna. É que a lei cobre apenas os depósitos de até R$ 20 mil (somados os recursos depositados em poupança, em Certificado de Depósito Bancário e em conta corrente), em caso de quebra de banco.
Assim, o vencedor deveria investir em quatro ou cinco instituições sólidas e de primeira linha, já que é de extrema importância diversificar as aplicações.
"Fazendo isso, ele diminui os riscos de uma má administração ou até mesmo a quebra de determinada instituição prejudicar os rendimentos ou colocar em risco todo o patrimônio", diz Poso.
Depois de escolhidas as instituições bancárias que vão administrar o seu dinheiro, vem talvez a mais importante escolha: a dos investimentos. Novamente, o consenso é a diversificação.
"Assim, ele tem menos chances de sofrer perdas estando exposto às oscilações da economia", diz Pasqualini, gerente de produtos da Caixa Econômica Federal.
O melhor, pelo menos no começo, é evitar grandes riscos. O mais recomendado pelos analistas é o fundo DI, atrelado ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que acompanha os juros. "Mas é importante observar se o fundo tem taxas pós-fixadas e se compra títulos do governo ou de bancos de primeira linha", diz Poso. "Do contrário, pode correr alguns pequenos riscos."
Nessa aplicação, o risco do milionário perder dinheiro é considerada nulo por analistas. "Se as taxas são pós-fixadas, ele não corre risco de mercado, e se a instituição onde aplica é sólida, não corre risco de crédito", diz Pasqualini.
Agora, se a ambição de rentabilizar a fortuna for maior, aí o novo milionário tem outras opções. Os fundos de ações podem apresentar bons ganhos, principalmente a longo prazo, mas correm riscos de perda de patrimônio devido à instabilidade na Bolsa.
Ainda mais arriscados são os fundos derivativos. Embora rentabilizem muito a carteira, correm risco até de perda total do patrimônio, como aconteceu com alguns fundos do banco Boavista na desvalorização do real.
Veja, no quadro ao lado, as opções de carteira de investimentos recomendadas pelos analistas. Quem sabe você não estará evitando uma futura dor de cabeça.



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