São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Especialistas cogitam combinação de erros

DA REPORTAGEM LOCAL

As hipóteses de especialistas para uma possível colisão entre as duas aeronaves envolvem uma combinação de falhas de equipamentos ou humanas.
Os dois aviões tinham um sistema conhecido como TCAS (Traffic Collision Avoidance System), tecnologia anticolisão que reconhece a proximidade de um "intruso" ao trocar informações com um transponder instalado nas aeronaves. Ele dá alertas sonoros e visuais.
Uma das possibilidades envolve a falha dos TCAS. Mesmo assim, isso não deveria ser suficiente para um choque, já que os pilotos devem receber informações dos radares e dos controladores do tráfego aéreo que trabalham por terra -especialmente numa região do Brasil considerada bem monitorada.
A própria Aeronáutica ressalta em orientações internas que os TCAS não são infalíveis. As informações passadas por eles podem ficar sujeitas a interferências até de tempo.
Adalberto Febeliano, presidente da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), considera mais plausível ter havido algum problema de aferição incorreta da altitude por parte de uma das aeronaves. Com isso, a informação de sua altura transmitida, por meio do transponder, para TCAS de outros aviões e operadores da torre de controle fica comprometida.
Essa hipótese foi citada como bastante factível por outros dois especialistas contatados.
A possibilidade de falha humana poderia estar ligada ao fato de algum dos pilotos ter adotado procedimento diferente do orientado pelo sistema anticolisão -por exemplo, ir para a direita, em vez da esquerda.
Mas também pode envolver erros humanos em terra, por parte de controladores de tráfego que não teriam atentado para ou dado os devidos alertas aos pilotos diante da constatação de um eventual choque.

Colisão famosa
Um das colisões famosas de aeronaves se deu em 2002, entre um avião da Suíça e outro da Rússia. Na ocasião, foi aventado que um dos TCAS estava desligado para manutenção. Além disso, foi constatada que a indicação dada por controladores de tráfego e seguida por um dos pilotos havia sido oposta à do sistema anticolisão.
Uma das informações em apuração era a da ausência de identificação do jato Legacy nos mapas de controle aéreo. Ou seja, a situação da aeronave antes do acidente, incluindo velocidade e altitude, não teria sido dada por seu transponder.
O desligamento ou quebra desse dispositivo, que troca informações com os TCAS, deixaria os vôos sob risco, requisitando tentativa de contato imediata da torre de controle. Se isso ocorreu, está na caixa-preta.
Entre aeronaves menores, que voam em baixa altitude, a desativação do transponder pode ser uma estratégia de um piloto que não quer ser identificado nem fiscalizado por motivos diversos -como por servir a uma atividade clandestina.
Mas entre as maiores, como as envolvidas no choque de anteontem, numa altitude superior a 30 mil pés, onde há monitoramento aéreo severo, a hipótese é considerada improvável por especialistas. Isso porque a falta do transponder em condições desse tipo é detectada pelos controladores em terra -que são obrigados a contatar a tripulação na mesma hora.
"Seria não só irregular. Ela se tornaria uma aeronave intrusa e poderia ser abatida", afirma George William César Sucupira, presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves. (ALENCAR IZIDORO)


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