São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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RESGATE

Índios se mobilizam e ajudam nas buscas

Região, de difícil acesso, requer a presença de pára-quedistas, cordas e até rapel na procura das vítimas do acidente

Militares especializados em resgate conseguiram descer ontem em área próxima à queda; acampamento deve ser montado no local

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIO BRANCO

Um grupo com 11 indígenas caiapós, liderados por Megaron Txurracamãe, começou a percorrer ontem uma distância de cerca de 40 km entre a aldeia Piaruçú, cerca de 300 km de Colíder (MT), até a confluência dos rios Jarinã e Xingu para ajudar no resgate das vítimas do vôo 1907. Eles vão se unir aos esforços de militares que, com o uso de pára-quedas e rapel, tentam chegar ao local do acidente.
Os índios iriam enfrentar um percurso de sete horas em uma lancha e também uma caminhada por uma área de floresta densa até chegar ao local onde caiu a aeronave.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) de Brasília está apoiando a ação dos caiapós, índios conhecidos como guerreiros e com amplo domínio de como viver na floresta.
Por telefone, de Colíder, Megaron Txurracamãe, 56, disse que o avião caiu na terra indígena Capoto-Jarinã, mas nenhum dos 80 índios que vivem na aldeia Piaruçú, localidade mais próxima da queda da aeronave, viu o acidente.
"Estão todos tristes. De repente, caiu um avião grandão desse tipo dentro da nossa área. É muito ruim", disse Megaron, que é administrador regional da Funai de Colíder.
A Folha falou com o indígena por volta das 14h (horário de Brasília), meia hora antes de ele sair de avião de Colíder para a aldeia Piaruçú.
"[Da aldeia ] Piaraçú vamos de barco até o rio Jarinã e de lá seguiremos a pé até chegar ao local [do acidente]. Vamos fazer o possível para ajudar. A nossa ajuda é resgatar os corpos das pessoas mortas no acidente. Queremos ajudar porque somos gente, somos seres humanos", disse Megaron.
Segundo o biólogo da Funai de Colíder Luíz Carlos da Silva Sampaio, as dificuldades que os caiapós vão encontrar para chegar ao local do acidente são as curvas do rio Jarinã, que está com o leito muito baixo, e risco de picada de cobras.
"Esse é um papel que os caiapó sabem desempenhar muito bem, por isso podem ajudar bastante", disse Luís Carlos Sampaio, biólogo da Funai de Colíder que acompanhava a operação.

Militares
Dois militares especializados em resgate conseguiram descer em área próxima ao acidente somente às 13h30 de ontem, quase 21 horas após o horário estimado da queda do avião. Segundo nota conjunta da Aeronáutica, da Anac e da Infraero, os militares trabalhavam na tarde de ontem na abertura de uma clareira na vegetação, forma de possibilitar o pouso dos helicópteros de resgate.
A nota diz que dois pára-quedistas foram lançados na área -localizada a 200 km ao sudeste de Peixoto de Azevedo (MT)- para auxiliarem nos trabalhos de abertura da mata. A nota dizia não ser possível, até então, "indicar a existência ou não de sobreviventes".
Como por volta das 17h começaria a escurecer na região, era provável que as equipes montassem acampamentos para reiniciarem os trabalhos pela manhã. Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso, Célio Wilson de Oliveira, o resgate deverá durar ao menos três dias.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Reportagem Local


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