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OPINIÃO
Sistema não é razoável mesmo quando funciona
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Se a Polícia Federal investiga crimes com a mesma
competência com que organiza a fila do passaporte, não
é uma surpresa que haja tantos bandidos à solta no país.
Meu problema é banal,
mas revelador do apagão logístico que entreva o órgão.
Preciso renovar os passaportes de minha enteada e
dois filhos. Nós não temos
nenhuma pressa.
A dificuldade é que, por alguma razão que desafia os
rudimentos da lógica, o site
da Polícia Federal (antes da
pane) limitava os agendamentos às duas ou três semanas seguintes, sem permitir
que se escolhessem datas
mais afastadas.
O resultado prático é o seguinte: mesmo quando funciona, o sistema fica tão congestionado que é virtualmente impossível marcar as entrevistas de conferência de
dados das três crianças para
a mesma data.
Em vez de comparecer ao
prédio onde fica a sede da Polícia Federal uma única vez
para apresentar os documentos, como seria razoável, eu
mais a mãe teremos de ir ao
órgão três vezes.
A boa notícia é que, como
não é necessário marcar hora
para buscar os passaportes,
essa operação vai requerer
uma única viagem.
LÓGICA
Ninguém precisa de PhD
em matemática aplicada para perceber que, se a Polícia
Federal estreita a janela temporal dos agendamentos,
cria uma demanda artificial,
agregando ao congestionamento as pessoas que não
têm urgência na obtenção do
documento.
Procurei entrar em contato
com o órgão para alertá-los
do absurdo da situação, mas
tudo o que consegui foi o telefonema de uma simpática
funcionária do Serpro sugerindo em quais horários eu
deveria correr ao computador para tentar agendamentos próximos para os três.
Em princípio, levei tudo na
esportiva. Afinal, nós não temos pressa.
Mas, pensando melhor,
trata-se de um caso grave de
incompetência técnica aliada a desprezo pelos direitos
da cidadania.
Ao menos em São Paulo,
os problemas na emissão de
passaportes já duram dois ou
três anos sem que se resolva
a situação, apesar de o cidadão pagar caro -R$ 156,07-
pelo documento. Paro um
pouco antes de sugerir a terceirização do serviço.
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