São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2010

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OPINIÃO

Sistema não é razoável mesmo quando funciona

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Se a Polícia Federal investiga crimes com a mesma competência com que organiza a fila do passaporte, não é uma surpresa que haja tantos bandidos à solta no país.
Meu problema é banal, mas revelador do apagão logístico que entreva o órgão.
Preciso renovar os passaportes de minha enteada e dois filhos. Nós não temos nenhuma pressa.
A dificuldade é que, por alguma razão que desafia os rudimentos da lógica, o site da Polícia Federal (antes da pane) limitava os agendamentos às duas ou três semanas seguintes, sem permitir que se escolhessem datas mais afastadas.
O resultado prático é o seguinte: mesmo quando funciona, o sistema fica tão congestionado que é virtualmente impossível marcar as entrevistas de conferência de dados das três crianças para a mesma data.
Em vez de comparecer ao prédio onde fica a sede da Polícia Federal uma única vez para apresentar os documentos, como seria razoável, eu mais a mãe teremos de ir ao órgão três vezes.
A boa notícia é que, como não é necessário marcar hora para buscar os passaportes, essa operação vai requerer uma única viagem.

LÓGICA
Ninguém precisa de PhD em matemática aplicada para perceber que, se a Polícia Federal estreita a janela temporal dos agendamentos, cria uma demanda artificial, agregando ao congestionamento as pessoas que não têm urgência na obtenção do documento.
Procurei entrar em contato com o órgão para alertá-los do absurdo da situação, mas tudo o que consegui foi o telefonema de uma simpática funcionária do Serpro sugerindo em quais horários eu deveria correr ao computador para tentar agendamentos próximos para os três.
Em princípio, levei tudo na esportiva. Afinal, nós não temos pressa.
Mas, pensando melhor, trata-se de um caso grave de incompetência técnica aliada a desprezo pelos direitos da cidadania.
Ao menos em São Paulo, os problemas na emissão de passaportes já duram dois ou três anos sem que se resolva a situação, apesar de o cidadão pagar caro -R$ 156,07- pelo documento. Paro um pouco antes de sugerir a terceirização do serviço.


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