São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Pai acorrenta filha de 13 anos para evitar que usasse crack

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um aposentado de 73 anos decidiu acorrentar a filha de 13 anos, usuária de drogas, por 24 horas dentro de casa, no bairro Ipiranga, em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo). O pai a prendeu com correntes e um cadeado ao pé da cama da menina para evitar que ela voltasse a consumir crack.
Ele a manteve presa no domingo e na segunda-feira. Como a garota estava mais calma, resolveu soltá-la. Na mesma noite, a filha saiu para a rua e voltou de madrugada. Saiu novamente às 17h de anteontem e nenhum parente sabia de seu paradeiro até ontem à tarde.
Ela é a caçula de sete filhos do ex-pedreiro. Quieta, assídua na escola, mudou nos últimos dois meses, conta o pai, tempo em que começou a usar drogas. "Ela era até gordinha, sabe? A droga acabou com ela. A gargantinha está tão fina, parece um caninho. E ela não quer saber mais de ir para a escola."
No final de agosto, após envolver-se em uma ocorrência policial, ficou por um dia no NAI (Núcleo de Atendimento Integrado). Quando estava em casa, fechava-se no quarto ou banheiro, fumando crack. Passou a sumir também à noite. No domingo, quando voltou depois de três dias fora de casa, o pai ameaçou prendê-la.
"Se quiser acorrentar, me acorrente", ela respondeu. Foi o que ele fez, não sem antes colocar uma meia em seu pé. "Para a corrente não machucá-la."
O aposentado conta ter ficado com remorso por tê-la prendido e quer que a filha seja internada em uma clínica para dependentes de drogas.
Membros do Conselho Tutelar visitaram a família ontem. Segundo a conselheira Sílvia Helena Seixas, o órgão enviará um pedido ao juiz da Infância e Juventude, Paulo César Gentile, para que a garota seja internada para tratamento.
Ribeirão, porém, não tem nenhum convênio com casas de recuperação para adolescentes.
O juiz Gentile disse que, em tese, o pai cometeu um crime, mas sem dolo (intenção) e "motivado pelo desejo de ajudar a filha", o que não deve ser interpretado como crime.


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