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Prédio abandonado foi "emprestado" pelo governo em 2004
União Brasileira de Escritores, que se instalou no local, queria a posse definitiva do imóvel, mas não conseguiu
INSS entrou com pedido de reintegração de posse em setembro; INSS não poderia ceder bens pagos com dinheiro do contribuinte
DA REPORTAGEM LOCAL
O casarão ocupado na rua
Marquês de Paranaguá pertence ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que entrou
dia 30 de setembro com uma
ação de reintegração de posse.
O imóvel foi ocupado por
quase dez anos até 2004 pela
União Brasileira de Escritores
(UBE), entidade municipal e
estadual com 51 anos e 3.000
sócios -entre eles, Lygia Fagundes Telles, Antonio Candido, Sérgio Buarque de Hollanda
e o presidente Lula.
"Aqui não fazemos juízo de
valor. Para nós, não há distinção entre Jorge Amado e um
poeta que rima rapadura com
prefeitura", diz o secretário administrativo da união, Caio
Porfírio Carneiro.
Ele afirma que o presidente
da República está ali por conta
de discursos que proferiu ainda
quando era metalúrgico. "Isso
[discurso] conta", diz.
Em 2004, Lula sancionou
uma lei autorizando a cessão do
imóvel à UBE. Só que a entidade queria a posse e não o "empréstimo" do casarão.
Mas, segundo a assessoria do
INSS, o instituto não pode ceder bens que foram pagos com
dinheiro dos previdenciários.
Então, o imóvel foi apenas disponibilizado. A assessoria de
Lula não respondeu aos pedidos de entrevista.
A UBE chegou a começar
uma reforma na casa, diz Porfírio, com a ajuda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também integra o
quadro de escritores da união,
mas não foi adiante. "O Ministério da Cultura de Fernando
Henrique dava R$ 150 mil, depois R$ 70 mil, R$ 100 mil. Mas
precisávamos de R$ 1 milhão",
diz Porfírio.
FHC diz que nunca participou de qualquer atividade da
UBE e "nunca soube de doações para a reforma do imóvel."
"Tínhamos esperança de que
a casa fosse doada pra gente.
Não queríamos mais ficar ali
provisoriamente", diz Porfírio.
Inadimplência
Em seus primórdios, a UBE
ocupava outro prédio do INSS,
na rua 24 de Maio, quando foi
despejada por inadimplência.
"Eles cobravam um aluguel irrisório e passaram a pedir uma
exorbitância", diz Porfírio. Depois de entrar com uma ação, a
UBE ganhou do INSS o direito
de guardar seu acervo na casa.
A entidade funciona hoje em
uma sala pequena na rua Rego
Freitas. Porfírio diz que, quando perdeu as esperanças de ter
o casarão, fechou a porta, encaminhou um ofício ao INSS informando que estava devolvendo o imóvel e entregou a chave.
A assessoria do INSS afirma
que não tem conhecimento
desse documento.
Quando a UBE fechou a porta, sobrou um vigia ("um tal de
Caio", dizem os mais antigos).
Foi ele que abriu as portas para
o "amigo" Idaelcio Itapevi, que
hoje está preso e que, por sua
vez, trouxe outros conhecidos
para "tomar conta da casa". "O
começo foi com o Itapevi", dizem todos.
(PS e DV)
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