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DROGA NAS ESCOLAS
Alunos pegos com tóxico nos colégios sofrem "transferência compulsória"; método causa polêmica
"Expulsão" é regra na rede particular
SÍLVIA CORRÊA
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Escola Vera Cruz -conhecida por seus métodos alternativos
de ensino- expulsou há um mês
dois alunos que estavam enrolando um cigarro de maconha em
uma das quadras do colégio.
Não é uma ação isolada. O porte
de maconha já foi motivo de expulsão no Nossa Senhora das
Graças -tradicional escola de
freiras-, no Santo Américo
-colégio de monges- e até na
Escola da Vila, outro núcleo alternativo de educação.
No Mackenzie, o motivo foi lança-perfume. Ninguém usou, mas
o aluno levou o frasco à escola.
Nas mais conhecidas instituições particulares de ensino de São
Paulo, a regra é: alunos pegos portando ou usando drogas devem
sair do colégio.
Na última semana, a Folha procurou 20 dessas escolas. Das oito
que se dispuseram a expor seus
procedimentos, sete confirmaram a norma. A maioria diz já ter
aplicado a medida. As outras 12
instituições procuradas não se
pronunciaram -quatro delas
(Equipe, Santa Cruz, Dante Alighieri e Etapa) não comentam esse assunto.
Os casos nunca são registrados
na Delegacia de Ensino -o que,
ao pé da letra, descaracteriza a expulsão. São, do ponto de vista formal, "transferências compulsórias". Burocracia à parte, o resultado é a saída imediata da escola.
"A maioria das escolas adota a
expulsão de forma grave, sem que
o problema seja discutido. É uma
atitude de avestruz que ocorre
também nas famílias", diz o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira,
que dirige um programa de prevenção às drogas (Proad) e atende
a algumas escolas.
A opção pela expulsão é polêmica. De um lado, as escolas alegam
que não lhes resta outra saída.
"Levar drogas para a escola é
proibido. É tolerância zero. Expulsão. Risco de vida. O aluno deve ter a chance de se readaptar em
outro ambiente, mas a escola não
deve ter receio de ser clara. O problema da educação hoje é a relativização das regras", diz d. Geraldo
Gonzalez y Lima, 41, vice-reitor
do Colégio Santo Américo.
Do outro lado, médicos, psicólogos, pedagogos e o próprio sindicato das escolas particulares
afirmam que, ao expulsar o aluno,
a instituição apenas lava as mãos.
"Não se pode confundir expulsão com limites. Expulsar é se livrar do problema de forma covarde. O que deveria ser um momento educativo vira uma punição definitiva", diz a psicóloga Helena
Lima, professora da PUC-SP que
se dedica a ações de prevenção.
Limite, respeito e papéis
O que está em jogo é avaliar se a
medida vai ajudar ou não os alunos. Para isso, porém, não há resposta definitiva. Disciplina é hoje,
todos concordam, um assunto
controverso e bastante experimental, na qual as balanças oscilam diariamente entre o "laissez-faire" (deixar fazer) e as medidas
drásticas de imposição de limites.
"É impossível dizer o que vai
dar certo. O que sem dúvida não
cabe mais é fingir que nada está
acontecendo", diz Ana Luiza Fonseca Martins, orientadora educacional e pedagógica do Colégio
Santa Maria, escola de freiras conhecida por ações de vanguarda.
No Santa Maria, o aluno é transferido se for pego com drogas.
O psiquiatra Içami Tiba, autor
do livro "Anjos Caídos - Como
Prevenir e Eliminar as Drogas na
Vida do Adolescente", concorda
com o Santa Maria na necessidade de discussão -o que não é
consenso entre as escolas. Mas
discorda da norma da expulsão.
"As atitudes drásticas têm o mérito de fazer com que a verdade
seja recolocada. Levar o debate
para dentro das escolas é uma forma de torná-lo mais sério. Só assim as expulsões podem dar lugar
a projetos de recuperação."
Em defesa das expulsões, os argumentos se repetem: necessidade de impor limites, de manter a
autoridade e de permitir que o
aluno reconstrua seu papel.
"O aluno precisa recomeçar em
outro lugar, porque naquele espaço, naquela escola, ele já adquiriu
um rótulo", resume Roseli Fernandes Lins Caldas, 45, psicóloga
escolar do Colégio Mackenzie.
"Temos de pensar no coletivo.
O aluno ficará engessado em um
papel. Passam a esperar dele algumas atitudes, e ele as repete. Temos de convencer os pais da necessidade de reconstrução desse
papel em outro lugar", completa
Ana Luiza, do Santa Maria.
Transferência de problemas
O foco no coletivo, porém, está
também na raiz das críticas. "A
expulsão pode levar também os
demais alunos a esconder os problemas. E um problema embaixo
do tapete é um problema fora de
controle", diz Dartiu Xavier.
Para a psicóloga do Mackenzie,
as escolas estão mais rígidas como
resposta à facilidade de acesso às
drogas, ao aumento da toxicidade
das substâncias e à desestruturação das famílias. Mas a resposta,
diz a pedagoga Neide Barbosa
Saisi, não é a mais acertada.
"Claro que a escola deve se modificar com a sociedade. Mas ela
não pode só refletir e transferir
problemas. Deve atuar sobre eles.
Não basta colocar na rua porque a
criança é um problema que a escola não sabe resolver. A escola
tem encarar a questão como desafio, não como afronta", afirma
Neide, que leciona psicologia de
educação na PUC.
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