São Paulo, quinta-feira, 01 de dezembro de 2005

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NOITE DE TERROR

Menina de um ano está entre as vítimas; segundo a polícia, incêndio foi em represália à morte de traficante

Ataque a ônibus mata cinco pessoas no Rio

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Num ato de barbárie, cinco pessoas morreram carbonizadas e pelo menos 13 tiveram queimaduras após ação de um grupo de homens e mulheres que ateou fogo em um ônibus por volta das 22h30 de anteontem, na Penha Circular (zona norte do Rio). Entre as vítimas estava Vitória, 1, que morreu no colo da mãe.
Para a polícia, o ato foi em represália à morte de um traficante durante ação da PM horas antes.
Segundo moradores, o fogo demorou cerca de 15 minutos. Vários passageiros se jogaram no chão para tentar debelar as chamas. Os estragos foram tantos que ainda não foi possível identificar três das vítimas.
O ônibus da linha 350 (que liga o Passeio, no centro, a Irajá, na zona norte) tinha em todos os bancos ao menos um passageiro -cerca de 30 a 40 pessoas. Passava pela rua Irapuá, quando duas ou três jovens aparentando 18 anos fizeram sinal para que parasse. O ponto de ônibus fica perto de um dos acessos ao morro do Quitungo. A rua é típica de bairros da classe média baixa do Rio.
As meninas não embarcaram, mas um homem entrou no ônibus e começou a gritar para o motorista, Clóvis de Moraes Pinheiro, 50: "Desce, desce".
Outro homem entrou gritando para os passageiros: "Rala, rala [gíria para sai]". Jogou duas garrafas pet, de dois litros, de combustível, supostamente gasolina, no chão do ônibus e ateou fogo.
O motorista afirmou que foi arrancado do ônibus e jogado na calçada. Disse ainda que os criminosos não deixaram que abrisse a porta de trás para que os passageiros pudessem fugir. Ainda conseguiu ajudar a quebrar o vidro traseiro do ônibus, para auxiliar a fuga dos passageiros. "Parecia um inferno mesmo. Nunca tinha visto aquilo", contou ele pela manhã, antes de tomar medicamentos para conseguir dormir horas depois.
O grupo criminoso era composto por pelo menos dez pessoas -algumas seriam adolescentes. Ninguém havia sido preso até a conclusão desta edição.
Quando o fogo começou a se alastrar, o pânico tomou conta dos que estavam no ônibus. Um dos mais desesperados era Rogério Mendes de Oliveira, que estava com a mulher, Vânia da Lúcia Barbosa, 33, e a filha Vitória, 1. Ambas morreram.
"O pai estava queimado, mas chorava e gritava: "Minha filhinha, minha mulher". Não tinha jeito, dava para ver que ele tentou, mas não conseguiu tirá-las de lá. O ônibus queimou muito rápido. Se ele não saísse, morreria também", disse uma moradora.
Pelo menos dez vítimas foram levadas para o hospital. Duas estão em estado gravíssimo.


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