São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Isso é coisa de gente travada, diz ex-dona da Kilt

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dona durante 33 anos da Kilt, a empresária Tânia Maciel considera a recente onda de interdições de casas de garotas de programa "lamentável". "Esses lugares são pontos de encontro como outro qualquer. Estão mais para agência de casamento do que para casa de prostituição.." Em entrevista à Folha, Tânia diz que, ao suspender a atividade nas casas, as autoridades não estão reduzindo a prostituição, mas fomentando. Segundo ela, essas casas não têm quartos, a idéia e que as moças façam o cliente consumir, beber. Ali elas estão muito mais protegidas do que na rua Augusta, a céu aberto.

 

FOLHA - Qual a conseqüência, para o mercado de garotas de programas, de tantas casas fechadas?
TÂNIA MACIEL -
As autoridades pensam que reprimem, mas acabam fomentando a atividade das garotas, porque veja: o interesse das casas é que elas permaneçam o máximo de tempo ali, fazendo o cliente consumir. É aí que se ganha dinheiro. Na Kilt não tem quartos, ninguém transa, apenas conversa, faz strip. Na rua elas ficam muito mais expostas.

FOLHA - Na sua época havia essas blitze em casas de garotas?
TÂNIA MACIEL -
Não tinha nada disso, que negócio é esse! Tanta coisa para eles cuidarem. Não tem crime nisso aí. Nos países de Primeiro Mundo é legal, paga-se imposto e tudo bem.

FOLHA - Mas a Kilt chegou a ser fechada quando a sra. era dona.
MACIEL -
Isso foi há 15 anos, quando havia um delegado chamado Sebastião Lopes que fazia o BO [boletim de ocorrência] em latim e citava trechos da Bíblia. Fui indiciada quatro vezes. Ele jurou que acabaria com as casas de garotas de programa em São Paulo, até que um dia, em uma audiência, viu que o juiz e boa parte das pessoas ali no tribunal me conheciam, e muito bem.

FOLHA - Havia menores de idade nas casas fechadas.
TÂNIA -
Não há necessidade de ter porque aparecem muitas moças na porta. O dono da casa escolhe quem vai entrar. E verifica a identidade delas.

FOLHA - A sra.acha que os motivos são morais desta vez?
TÂNIA -
Olha, é coisa de gente travada. Porque a existência dessas casas não faz mal a ninguém. São pontos de encontro como qualquer outro. Estão mais para agência de casamento. Você não não sabe a quantidade de gente que eu vi casando com o povo da Fórmula 1, empresários, advogados...

FOLHA - Com a suspensão da atividades em pelo menos seis casas (contando o Bahamas e o Café Milenium), é possível que o mercado de garotas fique inflacionado. Para onde vai esse excedente?
TÂNIA -
Fica tudo na rua, meu bem. Na Augusta e naquelas transversais, a Haddock Lobo, tal. Milhares de garotas que freqüentam essas casas estarão expostas ao perigo desnecessariamente. Nas casas, você tem controle de quem entra, de drogas, entende? Os clientes também ficam desprotegidos, você sabe, na rua o nível é outro.

FOLHA - Acha que o preço do programa vai cair?
TÂNIA -
Não, porque as de bom nível saem do Brasil. Há muitas de excelente nível, elas não vão se propor a ficar na calçada.


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