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Isso é coisa de gente travada, diz ex-dona da Kilt
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dona durante 33 anos da
Kilt, a empresária Tânia Maciel
considera a recente onda de interdições de casas de garotas de
programa "lamentável". "Esses
lugares são pontos de encontro
como outro qualquer. Estão
mais para agência de casamento do que para casa de prostituição.." Em entrevista à Folha, Tânia diz que, ao suspender a atividade nas casas, as autoridades não estão reduzindo
a prostituição, mas fomentando. Segundo ela, essas casas não
têm quartos, a idéia e que as
moças façam o cliente consumir, beber. Ali elas estão muito
mais protegidas do que na rua
Augusta, a céu aberto.
FOLHA - Qual a conseqüência, para
o mercado de garotas de programas, de tantas casas fechadas?
TÂNIA MACIEL - As autoridades
pensam que reprimem, mas
acabam fomentando a atividade das garotas, porque veja: o
interesse das casas é que elas
permaneçam o máximo de
tempo ali, fazendo o cliente
consumir. É aí que se ganha dinheiro. Na Kilt não tem quartos, ninguém transa, apenas
conversa, faz strip. Na rua elas
ficam muito mais expostas.
FOLHA - Na sua época havia essas
blitze em casas de garotas?
TÂNIA MACIEL - Não tinha nada
disso, que negócio é esse! Tanta
coisa para eles cuidarem. Não
tem crime nisso aí. Nos países
de Primeiro Mundo é legal, paga-se imposto e tudo bem.
FOLHA - Mas a Kilt chegou a ser fechada quando a sra. era dona.
MACIEL - Isso foi há 15 anos,
quando havia um delegado chamado Sebastião Lopes que fazia o BO [boletim de ocorrência] em latim e citava trechos
da Bíblia. Fui indiciada quatro
vezes. Ele jurou que acabaria
com as casas de garotas de programa em São Paulo, até que
um dia, em uma audiência, viu
que o juiz e boa parte das pessoas ali no tribunal me conheciam, e muito bem.
FOLHA - Havia menores de idade
nas casas fechadas.
TÂNIA - Não há necessidade de
ter porque aparecem muitas
moças na porta. O dono da casa
escolhe quem vai entrar. E verifica a identidade delas.
FOLHA - A sra.acha que os motivos
são morais desta vez?
TÂNIA - Olha, é coisa de gente
travada. Porque a existência
dessas casas não faz mal a ninguém. São pontos de encontro
como qualquer outro. Estão
mais para agência de casamento. Você não não sabe a quantidade de gente que eu vi casando
com o povo da Fórmula 1, empresários, advogados...
FOLHA - Com a suspensão da atividades em pelo menos seis casas
(contando o Bahamas e o Café Milenium), é possível que o mercado de
garotas fique inflacionado. Para onde vai esse excedente?
TÂNIA - Fica tudo na rua, meu
bem. Na Augusta e naquelas
transversais, a Haddock Lobo,
tal. Milhares de garotas que freqüentam essas casas estarão
expostas ao perigo desnecessariamente. Nas casas, você tem
controle de quem entra, de drogas, entende? Os clientes também ficam desprotegidos, você
sabe, na rua o nível é outro.
FOLHA - Acha que o preço do programa vai cair?
TÂNIA - Não, porque as de bom
nível saem do Brasil. Há muitas
de excelente nível, elas não vão
se propor a ficar na calçada.
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