São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2001

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Posse reúne inimigos históricos

DA REPORTAGEM LOCAL

Foi um encontro formal na Câmara Municipal. Não poderia ser diferente. De um lado, o jurista Hélio Bicudo, defensor dos direitos humanos. De outro, o coronel Erasmo Dias, vereador do PPB, defensor da pena de morte.
Ambos defendem seus respectivos ideais há mais de 30 anos. Bicudo ostenta, entre outros, a participação na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e a presidência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), da qual se afastou recentemente. Além disso, foi secretário dos Negócios Jurídicos na gestão de Luiza Erundina na prefeitura (89-92).
No governo Marta Suplicy, do qual é vice, comandará o recém-criado Conselho Municipal de Direitos Humanos. E a própria prefeita ontem prometeu em seu discurso: todo o ato de discriminação, principalmente racismo e sexismo, será objeto de investigação e correição.
Já Dias define-se como "o mesmo" da década de 70, quando comandou a invasão da PUC, onde ocorria um encontro nacional de estudantes que havia sido proibido pelos militares. "Neste país, falta segurança pública. Não tem filosofia, tem doutrina: prevenir sempre e reprimir quando necessário", afirmou ao ser eleito.
Secretário da Segurança Pública nos governos Laudo Natel e Paulo Egydio Martins (ambos da extinta Arena), Dias tem outra leitura do episódio na PUC. "Aquilo (a reunião dos estudantes) foi uma desobediência civil, um desrespeito às normas legais e um desafio ao princípio de autoridade."

"Discurso atual"
Ao ser eleito vereador, Dias afirmou que seu discurso não tinha nada de ultrapassado. "É mais atual do que nunca. Não mudei nada. Sou absolutamente o mesmo. Não mudei os meus princípios, o meu modo de ser. Nem vou mudar", disse.
No mesmo momento, dizia não entender a esquerda brasileira. "Particularmente essa esquerda ligada aos anos 70, ao marxismo, ao leninismo, à luta armada, que tem dito agora que uma hora é light, outra hora é socialista, democrática."
Ontem, na posse, pareceu menos resistente. Aos jornalistas, contou que, ao se encontrar com a prefeita, ela lhe disse que não era sua inimiga. "Respondi a ela que concordo", afirmou.


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