São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2001

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RÉVEILLON

Tumulto envolvendo policiais militares e pessoas que assistiam o show na avenida Paulista começou por volta da 1h30

Festa termina com 40 feridos em São Paulo
Renata Freitas/Folha Imagem
Um dos detidos, cujas calças caíram enquanto ele tentava escapar dos policiais



DA REPORTAGEM LOCAL

Estouro de bombas, pancadaria e sangue em vez de festa e confraternização. Pelo menos 40 pessoas se feriram na primeira madrugada do ano, durante o show de réveillon em São Paulo.
Por quase uma hora, a avenida Paulista, um dos principais cartões postais da cidade, virou praça de guerra. De um lado estavam policiais militares e, do outro, pessoas que assistiam os shows.
O número de vítimas pode ser maior, já que a organização do evento não havia fechado ontem um balanço de atendimentos e muitos feridos haviam sido transportados por passantes.
Cerca de 1 milhão pessoas estava na avenida, de acordo com a PM, quando começaram a voar para o alto garrafas e bombas de efeito moral -aquelas que estouram e soltam fumaça.
O tumulto surgiu perto do palco, por volta de 1h30, na última apresentação da festa. Um grupo de 15 policiais, com escudos, entrou no meio da multidão para prender Erdilanio Carmo Ferreira, 24, que estaria agredindo outras pessoas ao seu redor.
Ao saírem, começou uma guerra de garrafas. ""Ficamos acuados, recebendo as garrafas e xingamentos, por isso jogamos as bombas (efeito moral), para fazê-los recuar", disse o tenente André Oliveira, que comandou a prisão.
O conflito se estendeu pela avenida depois disso, fazendo com que o evento fosse encerrado uma hora antes do previsto.

Conflito
Oito pessoas foram presas, incluindo dois adolescentes. Todos eles se feriram no confronto. Mais oito policiais também se machucaram, nenhum com gravidade.
Cerca de 500 policiais militares e 150 seguranças particulares estavam no local quando a confusão começou. Dois carros da PM tiveram os vidros destruídos.
Ontem, o comandante-geral da Polícia Militar, Rui César Melo, disse que seria instaurado inquérito para investigar o confronto do réveillon. ""Se houve falha, ela será identificada e o responsável, punido", afirmou ele.
O coronel, no entanto, não quis avaliar a conduta dos policiais durante a prisão e como controlaram o tumulto na avenida. ""A tropa, sentindo-se acuada, tem de se defender." Os PMs usaram cassetes, escudos e bombas.
Houve exagero, segundo a mãe de um dos garotos detidos, a ajudante de cozinha Arlete de Moraes, 43. Segundo ela, o rapaz de 17 anos estava com a namorada e um casal de amigos quando a batalha começou. ""Ele foi preso e agredido, mas não tinha nada a ver com a confusão."
A empresa organizadora do evento, Playmusic, chamou de ""fatalidade" o que houve e se isentou de responsabilidade. ""Até 1h30 foi perfeito. Somos responsáveis pela produção, a questão da ordem pública é dos órgãos públicos", disse ontem Silvana Destro, gerente de comunicação da Playmusic.
Os oito rapazes presos foram indiciados por desobediência, desacato e desordem no 4º DP (Consolação). Seis deles, adultos, não tinham dinheiro para pagar a fiança e ficariam presos ontem.
O garoto de 17 anos foi liberado com os pais e o outro, de 16, corria o risco de ir para a Febem (Fundação do Bem-Estar do Menor) porque a polícia não estava encontrando seus parentes.
A Polícia Civil não permitiu o acesso aos presos.

Fim
A PM irá recomendar que o próxima réveillon não seja na avenida Paulista. Isso por falta de segurança, segundo o capitão Francisco Rohrer, que comandou o policiamento no evento.
""A quantidade de policiais era suficiente, mas não temos como controlar o que as pessoas levam nas mãos", disse, referindo-se às garrafas de vidro, que são proibidas em eventos desse porte.
A Playmusic acha que a festa não poderia ser em outro local. Ontem, segundo a assessoria de imprensa da empresa, começariam a ser discutidas formas de aumentar a segurança.


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